Paladares com história
XI Mostra de Gastronomia de Vila Franca de Xira
Idosos de vários pontos do concelho deram a provar as receitas de outros tempos numa tarde animada. Fressura saloia, algaramocho e arroz doce foram alguns dos pratos triunfadores.
Na tarde de 15 de Setembro a avenida Pedro Victor, em Vila Franca de Xira, encheu-se de conceituados cozinheiros que deram a conhecer as suas artes. Estiveram presentes cerca de 50 instituições de idosos não só do concelho, mas também de Santarém, Caxias, Carregado e Samora Correia.Num mundo onde ainda predominam as mulheres, Vítor Manuel Silva é uma excepção. A “fressura saloia” que aprendeu a fazer com os avós evoca os tempos “ em que era miúdo e quando se matava o porco era dia de festa e de encher a barriga”. Hoje ainda cozinha ocasionalmente a receita de fressura, toucinho, banha e batatas. No entanto, o sabor já não é o mesmo de outros tempos. “Isto era dantes quando havia pouco dinheiro, agra já nem se mata o porco”, diz Vítor Manuel Silva, de 64 anos, que representa a Comissão de Idosos, Pensionistas e Reformados de Calhandriz, que também preside. Sempre que quer matar saudades da sua terra natal, Vila Nova de São Bento, no baixo Alentejo, Bárbara Santos Romeiro, 76 anos, cozinha um “algaramocho”. Apesar do nome sugerir algo complicado, a receita de Bárbara, da Instituição de Apoio aos Idosos e Reformados de São Romão, Alverca, é bastantes simples, como explica a própria.Basta tomate, pimento assado, pepino, azeite e vinagre e algumas sardinhas assadas desfiadas. Juntando-se-lhe água fria fica pronto a comer, sobretudo no Verão por ser fresco. A residir no concelho desde que casou, Bárbara Santos Romeiro já passou a receita a muita gente que se deliciou com o seu sabor a Alentejo.De mais perto veio Noémia Garete que há 32 anos deixou Guizandaria, em Alenquer, que a viu nascer e veio morar para a Vala do Carregado. No entanto a receita que na tarde de sexta-feira apresentou em Vila Franca aprendeu-a ainda com os pais na terra natal. O seu “arroz doce ribatejano” pode à primeira vista parecer igual a tantos outros, mas Noémia Garete garante que é diferente. O segredo está em não juntar ovos, mas antes leite creme. “Dá cor e fica mais cremoso”, conta a cozinheira de 67 anos, que representa o Centro Social Paroquial Casa São José, da Castanheira. Esta é a primeira vez que participa na mostra de gastronomia e confessa que estava muito nervosa “com medo que a receita corresse mal”. No entanto, o aspecto da travessa cheia de arroz doce não deixa dúvidas que este foi mais um cozinhado de sucesso para Noémia. Quem visita a mostra de gastronomia tem apenas a tarefa difícil de decidir por onde começar. Entradas, pratos de peixe e carne e sobremesas diversas enchem os olhos de quem passa e despertam a gula.Para João José Fontes, de 67 anos, esta mostra tem um sabor ainda mais especial. A residir há 40 anos na Alemanha esta é a primeira vez que visita a mostra, porque coincidiu com as suas férias. Aproveita para provar “ as especialidades feitas à moda das nossas terras” e levar na boca o gosto de Portugal para “enganar a saudade”. Já provou as favas com chouriço, mas espera ainda sentir o paladar de outras coisas tão genuínas do nosso país. A animar a tarde tão diferente vivida pela população sénior do concelho estiveram os ranchos folclóricos da Casa do Povo de Vialonga e dos Varinos de Vila Franca de Xira. Também o Grupo de Teatro “Os Revisteiros”, de Samora Correia, encheu de cor e animação as ruas com personagens pitorescos muitos deles decalcados de figuras também de outros tempos.
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