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Verdadeiro amor filial

Ele era filho de uma jovem mãe solteira.O pai nunca se preocupou com o filho e, ainda antes de ele nascer, já deixara de se relacionar com a progenitora.De modo que nunca chegou a conhecer o pequeno.A mãe tinha muitas dificuldades económicas.Ainda bebé, foi entregue numa instituição para menores, que o acolheu.Nunca viu o pai e não tem sequer a mais vaga recordação da mãe.Agora, já adulto, encontra-se numa outra instituição.Não será a pior de todas.O hospital é, sem dúvida, o mais indesejável. É sinal de que o nosso bem mais precioso está pouco valorizado. A saúde anda num grau baixo. O sofrimento físico, a agonia psicológica, a despesa e a impossibilidade de levar a cabo actividades normais fazem com que a permanência numa unidade de saúde seja o que mais se evita.Numa escala de desgostos, um dos locais mais indesejáveis é a prisão.Todavia, continua a pensar-se que “mal por mal, antes a cadeia do que o hospital”.Pois este jovem encontra-se precisamente a cumprir uma longa pena de 22 anos de prisão.Não se pense que tal se ficou a dever a uma infeliz infância, com ausência do amor paternal ou de uma adolescência caracterizada por privações.Bem pelo contrário. Não obstante as dificuldades iniciais, a sua vida ficou marcada pela sorte e pela felicidade.Um jovem casal, incapaz de gerar filhos biológicos, encontrou naquele bonito menino a possibilidade de terem um descendente adoptivo.A entrega foi quase imediata, mas o processo legal no tribunal ainda se tornou moroso e complicado. Só aos seis anos de idade é que ele ficou registado como filho daqueles generosos pais.Era um casal relativamente abastado e nada faltou a este único filho.Aos dezoito anos, ele saiu do lar paterno, mas continuou a contar com o apoio incondicional dos seus pais adoptivos. Visitava-os com frequência e, embora não fosse um filho exemplar, era sempre muito bem recebido.Até que, na sua mente, germinou um plano terrível. Quis tornar-se herdeiro mais cedo do que a lei da vida imporia.Para isso, pediu ajuda a um amigo, a quem entregaria uma parte do dinheiro que viria a receber, após a morte dos seus pais.Naquele dia fatídico, apresentou-se na casa paterna, acompanhado deste seu amigo. Vinham os dois para jantar.Após a refeição, ambos os amigos sentaram-se no sofá para verem televisão. Cada um deles decidiu agarrar numa almofada, encostando-a à barriga e abraçando-a com os dois membros superiores. Eram relativamente grandes, daquelas apropriadas a colocar no leito.A mãe ainda questionou o filho sobre a razão de ter ido ao piso superior buscar aquelas duas almofadas. Mas obteve uma resposta natural. Podia ser que eles viessem a recostar-se enquanto assistiam a um filme.Todavia, na realidade, eram instrumentos do crime.O plano consistia em algo de impressionante.O filho dirigir-se-ia ao pai. Colocaria a almofada sobre a face do pai, impedindo-o de respirar até que ele perdesse a vida.Simultaneamente, a mãe seria atacada pelo amigo, com o recurso ao mesmo método.A primeira parte foi efectuada até ao final. O pai adoptivo foi assassinado daquela forma tão bárbara quanto silenciosa.Mas o mesmo não sucedeu com a senhora. O amigo do ingrato jovem não conseguiu levar a cabo a sua missão. Começou por assentar a almofada do modo que estava previsto. Mas o modo como a vítima se mexia, tentando resistir àquela aflição, levou-a a que os mais variados pensamentos surgissem e desistiu:- Não consigo! – disse ao outro, que ainda estava a obstruir as vias respiratórias do seu pai adoptivo.A resposta foi do mais fria que se possa imaginar:- Segura nela que eu já vou aí matá-la quando acabar com este.E assim foi.Morto o homem, lançou-se à sua mãe, que acabara de enviuvar.Ela suplicou-lhe que não a matasse. Chorou, gritou e implorou-lhe.Ele era tão cruel como estúpido.Felizmente, acedeu aos pedidos da senhora, mas impondo algumas condições.A primeira relacionava-se com o móbil do crime.No dia seguinte, a mãe iria entregar-lhe todo o dinheiro que possuía no banco. Todos os bens seriam transferidos para o nome do filho.Depois, haveria que disfarçar o homicídio que havia sido consumado momentos antes.Sob a vigilância do filho, a recente viúva telefonou para a linha de emergência, informando que o seu marido fora acometido de um problema cardíaco, tendo aparentemente sucumbido.É claro que, quando ela se viu a sós no hospital com um médico, relatou a verdade e todos os pormenores do horrendo assassinato.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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