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Teatro regressa à Póvoa 16 anos depois com uma peça suspensa pela revolução do 25 de Abril

A Promessa de Bernardo Santareno em cena no fim de semana prolongado

A apresentação da peça de Bernardo Santareno é um regresso ao passado 16 anos depois da última peça no Grémio Povoense e 32 anos após a revolução ter deixado os ensaios a meio.

O teatro voltou ao Grémio da Póvoa de Santa Iria após dezasseis anos de ausência. O regresso dá-se com a peça “A Promessa”, de Bernardo Santareno, levada à cena pelo Grupo Dramático Povoense, com encenação de João Ferrador. A mesma peça que foi interrompida em 1974, por causa da revolução. “A Promessa” estava a ser ensaiada no Grémio Dramático Povoense mas não chegou a subir à cena. Alguns actores que na altura interpretavam papéis mais jovens, como António Nabais, regressam agora ao projecto, trinta e dois anos depois, tendo que fazer uma personagem mais velha. A próxima sessão é na sexta-feira, 8 de Dezembro.A história gira em torno de um casal, Maria do Mar e Zé, que antes de casarem, num acto de desespero por não saberem o que havia acontecido ao pai de Zé, pescador no mar em dia de tempestade, fizeram um voto de castidade na esperança de que a promessa lhes trouxesse o pai de Zé de volta. A promessa resulta mas Zé, sacristão e homem temente a Deus, prolonga-a muito para além do dia do casamento. Um dia, acolhem em sua casa um estranho que havia sido ferido. Maria do Mar, infeliz com o casamento que tarda em consumar-se, apaixona-se pelo homem. A partir daí, desenrola-se a tragédia.Do elenco constam nomes como Ana Cristina Viegas, António Nabais, Artur Neves, Fernanda Canha, José Carlos Venâncio, João Canário e Gilberto Paiva. Para o encenador, estes actores são um “grupo especial, de uma entrega brutal”. “As pessoas daqui têm um amor a isto, uma disponibilidade e uma vontade. Fiquei muito motivado com isso”. João Ferrador não é da Póvoa e aceitou o desafio de recuperar o teatro no Grémio no ano passado, quando um grupo de pessoas lhe fez essa sugestão. Em Julho escolheram o texto da peça e em Setembro começaram os ensaios. Fazem tudo isto nos intervalos dos empregos ou da escola, sem receberem nada em troca. Para o encenador, o saldo é positivo, apesar da falta de apoios. “É de uma vontade enorme fazer isto porque os recursos não são muitos”, diz João Ferrador. “Este tipo de projectos deve envolver toda a população, não só os populares mas também as empresas, porque isto é associativismo. Nós estivemos todos aqui a trabalhar sem ganhar nada mas as empresas não contribuíram. Se calhar não sabiam que isto existia mas agora é altura de agarrarmos isto”, acrescenta.A escolha desta peça ficou a dever-se a vários motivos. Bernardo Santareno foi o autor do texto do trabalho final do curso de Conservatório de João Ferrador que desde aí sempre teve vontade de trabalhar novamente um texto do autor. “Amo o texto, acho fabuloso e acho que tem tudo a ver com a Póvoa, com o seu passado da pesca”, justifica o encenador. A peça, que estreou no passado dia 2 de Dezembro, vai estar em cena na sala do Grémio Dramático Povoense nos dias 8, 9, 15 e 16 de Dezembro às 21h30 e no dia 17 às 16h00.Bernardo Santareno, um médico especialista em dramas Bernardo Santareno, pseudónimo de António Martinho do Rosário, nasceu em Santarém em 1920 e veio a falecer em Lisboa, no ano de 1980. Médico de profissão, começou por estrear-se na poesia mas foi como dramaturgo que se veio a impor-se como uma das figuras mais importantes da literatura portuguesa. Entre as suas várias obras, destacam-se peças como “O Judeu”, o relato da vida de António José da Silva, também dramaturgo, “O Punho” sobre a Reforma Agrária alentejana ou “O Crime da Aldeia Velha”, inspirado num caso real de uma rapariga de uma aldeia que todos acreditavam estar possuída pelo demónio. Deixou também a sua marca no teatro de Revista, com “P’ra trás mija a burra”, de 1975, onde colaborou com César de Oliveira, Rogério Bracinha e Ary dos Santos. A sua dramaturgia completa está publicada em quatro volumes.

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