Foi surpreendido com a queixa-crime apresentada pelos eleitos do PS na câmara, a propósito da última campanha eleitoral?Eu não quero falar do processo nem estou preocupado. Vamos esperar que o Ministério Público faça o seu trabalho. Não é o PS que decide, é o Ministério Público. O PS já demonstrou que não tem respeito pelas instituições. Nem pelo Ministério Público, nem pelos tribunais, nem pela Polícia de Segurança Pública. Basta ver qual foi a prioridade que a câmara deu à resolução dos problemas do tribunal e da polícia.Mas sobre o processo…Eu diria que se fosse antes do 25 de Abril ter-me-iam mandado para o Tarrafal. Como foi depois, apresentaram um processo contra mim.O facto de ser arguido vai mudar a sua postura na câmara?Não é a mim que o Ministério Público embarga obras, não sou eu que faço despachos em pedaços de papel. Não sou eu quem, enquanto vereador, defende os poderosos. Se alguém dorme descansado neste concelho sou eu.Este é um processo político?Há momentos para tudo, o que é político é político e que é do foro dos tribunais é do foro dos tribunais. Grave é misturar política com justiça. Não faz sentido. A política esgrime-se no campo político e quem aceita ir para a política deve aceitar estas regras.A presidente da câmara deu-lhe conhecimento que tinha colocado a acção?Eu sou vereador da câmara e até ao momento não tive conhecimento.Como é que analisa a forma como a presidente lida com os vereadores do PS e algum mau estar que tem transparecido?A presidente de câmara trata dos vereadores do PS como assessores e nem todos aceitam isso. Alguém se preocupou em saber porque é que o anterior vereador do Urbanismo, o arquitecto João Luís Lopes saiu. Alguém acredita que foi por estar doente. O senhor está a trabalhar. Acha que se ao fim de menos de seis meses, um vereador mete baixa e a seguir renúncia, foi por doença? Eu acho que não. O arquitecto João Luís Lopes não estava para arcar com as consequências dos erros dos anteriores eleitos do PS.O pelouro do urbanismo é complicado, outros também não resistiram?Todos os vereadores ou colaboradores que se oponham à presidente de câmara não conseguem resistir. Todos os vereadores que tinham ambições no PS foram obrigados a desistir porque a senhora presidente não permitiu que continuassem. Vamos ver o Alberto Mesquita porque tem a ambição de ser presidente de câmara.O problema é que senhora presidente de câmara quer mandar no urbanismo e controlar todos os pelouros. Quem vai às reuniões de câmara percebe isso facilmente.Sente que é respeitado pela maioria PS?Quando cheguei à câmara em 2002 nem uma cadeira tinha. Depois tive o meu telefone bloqueado. Hoje continuam a controlar todos os meus passos dentro da câmara. A maioria dos funcionários não pode falar livremente com as outras pessoas. Acha normal que a maioria dos trabalhadores da câmara tenha receio de falar? É público que a minha secretária foi ameaçada duas vezes no mandato anterior.Que tipo de oposição vai fazer?Quero fazer uma oposição séria, dizendo o que está mal e apresentando soluções alternativas. Vou continuar a denunciar esta promiscuidade ente as listas do PS e a máquina da câmara.É verdade que o PS tentou negociar consigo a cedência de tarefas e pelouros?Obviamente que o PS tentou várias vezes e fez algumas abordagens no mandato anterior, nomeadamente a senhora presidente da câmara. Eu não aceitei. As coisas têm de ser feitas com regras e eu não aceito ser vereador sem produzir trabalho. E também não aceito produzir trabalho que primeiro tenha que passar pelo gabinete da senhora presidente. É evidente que tem de haver regras, mas não aceito controle. Não aceito que um convite, um simples convite, tenha de ser assinado pela presidente e pelo vereador do pelouro. Maria da Luz Rosinha ridiculariza os seus vereadores quando os sugeita a este tipo de controle.Está a dizer que a presidente de câmara controla tudo?Qualquer pedido vai ao gabinete da presidente. Por absurdo até um pedido de papel higiénico.Como é que interpretou a ida do patrão da Obriverca à reunião de câmara?As regras têm de ser cumpridas. A câmara, genericamente, não cumpre regras. Há processos que demoram três anos para estarem concluídos e nenhum investidor aceita isto. A regra instituída é: abre primeiro e licencia depois. E faz-se isto porque a organização municipal não funciona. Tenho em preparação um conjunto de medidas para resolver isto e para que os serviços funcionem e os vereadores sejam responsabilizados.Mas não respondeu à pergunta…A mim não me surpreendeu a presença do senhor Eduardo Rodrigues porque eu penso que os investidores têm de ser tratados com respeito. A câmara apresenta com pompa e circunstância o gabinete do investidor que foi mero marketing. É mais um centralismo democrático à velha maneira estalinista. Sem regras.O Eduardo Rodrigues tem razão no que diz?A Obriverca e o Eduardo Rodrigues têm marcas no concelho porque mudaram a arquitectura na construção. Ousou fazer diferente. Os empresários, duma forma geral, têm razão de queixa da câmara? Não sei que acordo é que a câmara fez com este empresário. Agora para um empresário desta dimensão, que constrói do melhor que se faz na Área Metropolitana de Lisboa, estar tão insatisfeito é porque alguma coisa a câmara prometeu fazer e não fez.Mas Eduardo Rodrigues criticou a câmara no seu todo, incluindo a oposição?Faz algum sentido que um empresário esteja cinco anos para licenciar uma obra ? Quem tem que responder por isso é a senhora presidente. Tem de dizer que promessa é que faz aos empresários. Não tenho responsabilidade nenhuma nesta relação. A Obriverca nasceu há muitos anos e quem governava era a CDU. Será que mudou só a presidente da câmara?Esse é o discurso de alguém que tem ambição de ser poder e quer contar com a ajuda dos grandes empresários?Não foi na minha candidatura que o senhor Eduardo Rodrigues se foi sentar.