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João Pedro de Almeida é técnico de gestão equina na coudelaria Ortigão Costa

Jovem mudou-se da cidade para o campo para trabalhar com cavalos

O técnico de gestão equina da Coudelaria Ortigão Costa, João Pedro de Almeida, acompanha o ciclo de reprodução dos cavalos da herdade de Azambuja. Um trabalho apaixonante onde não há fins-de-semana ou feriados.

Ainda não são nove horas da manhã e o técnico de gestão equina João Pedro de Almeida, 26 anos, já percorre os corredores das cavalariças da Quinta da Fonte do Pinheiro, em Azambuja, onde está instalada a coudelaria Ortigão Costa – a única no mundo dedicada à criação de cavalos pretos.O relinchar dos animais ecoa no páteo. João Pedro de Almeida afaga um dos cavalos que se prepara para sair. O animal deixa a escuridão das cavalariças com o preto da pelagem a contrastar com a claridade da manhã. “Tálio” é um dos garanhões da coudelaria. São seis no total. O técnico sabe os seus nomes de cor. Como sabe também identificar uma a uma as éguas que todos os anos dão à luz os cavalos marcados a fogo com as letras da coudelaria Ortigão Costa.O jovem, de patilhas longas, calças de cavaleiro e botas de esporas, é um dos responsáveis pela reprodução da coudelaria. “É uma área que me fascina. Fala-se muito na reprodução, mas acho que os mistérios nunca serão todos desvendados", diz com entusiasmo o jovem que começou a trabalhar há seis anos na casa como equitador ajudante.Nesta altura do ano, o computador portátil do técnico está repleto de tabelas com as datas previstas para os nascimentos dos jovens poldros. “As parições começam em Janeiro. Conforme vão parindo vão iniciando um novo ciclo de reprodução”, garante o entendido que explica que as 70 éguas são utilizadas exclusivamente para a reprodução. O trabalho fica reservado aos machos. Para este mês de Janeiro prevêem-se 60 nascimentos.Durante a gestação, que demora 11 meses, as éguas da coudelaria permanecem grande parte do tempo nas pastagens verdes das terras férteis do Cabo da Lezíria, a sul do Tejo, na zona de Vila Franca de Xira. A meio da gestação são transportadas para Azambuja. Evita-se o transporte numa fase já avançada para prevenir situações de stress e eventuais perdas. Os animais ficam em camas de palha sob um telheiro no campo. “As éguas não se deixam ver a parir. Até é perigoso. Têm capacidade natural para resolver as coisas sozinhas", explica João Pedro de Almeida. O nascimento dos poldros também sofre a influência da lua. Há noites em que estão duas e três éguas a parir ao mesmo tempo. A reprodução começa a partir dos três anos. A coudelaria tem éguas com 27 anos que ainda continuam no ciclo de reprodução. São “gravidezes" de alto risco que só acontecem porque todos os filhos são premiados.O treino dos cavalos criados na coudelaria é assegurado por João Pedro de Almeida que também participa nas feiras nacionais. Os cavalos só são vendidos a partir dos três anos. O objectivo é garantir que o animal tem boa qualidade. Os cavaleiros preferem animais mais adiantados com quatro ou cinco anos. João Salgueiro, Luís Rouxinol, Joaquim Bastinhas e Ribeiro Telles são alguns dos ilustres cavaleiros que já escolheram a coudelaria. Mas grande parte da criação vai para fora: Espanha, França, Suíça, Alemanha, Estados Unidos da América e até Brasil. Por vezes o equitador tem que acompanhar o percurso dos cavalos. É a parte que menos gosta da sua profissão. “Ainda no outro dia tive que ir a Madrid levar cavalos. Fui e vim no mesmo dia”, confessa.João Pedro de Almeida nasceu em Lisboa, mas cedo começou a visitar a herdade Ortigão Costa com os familiares. Vive actualmente no vizinho concelho de Arruda dos Vinhos e nos tempos livres treina cavalos num picadeiro que alugou em Vila Franca de Xira.A profissão é apaixonante, mas absorvente. A jornada de trabalho começa cedo e acaba tarde. Não há fins-de-semana ou feriados. "Houve um dia de Natal que passei com um cavalo que estava com cólicas", revela. A paixão pelos cavalos já lhe deu alguns dissabores. Estava há três anos a trabalhar na casa Ortigão Costa quando se aproximou de um cavalo que tomava banho pela primeira vez. O animal assustou-se e o técnico levou uma parelha de coices em cada joelho. Os sete meses de baixa ensinaram-lhe a não confiar demasiado. É impossível escapar a uma pisadela ou queda, mas os cuidados a ter são sempre a redobrar.

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