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A bailarina que pediu um empréstimo ao banco para tirar o curso dos seus sonhos

Helena Azevedo diz que só é preciso alma para dançar

“Para ser bailarina é preciso ter alma, a técnica só ajuda”. A “receita” é de Helena Azevedo, a professora de Torres Novas que há 24 anos luta para que a dança não seja um espectáculo de e para elites.

Helena Azevedo, a menina que queria ser bailarina, ultrapassou todas as barreiras para seguir o seu sonho. Como fazer quase 220 quilómetros diários de comboio (entre Riachos e Lisboa e regresso) e levantar-se de madrugada para às nove em ponto estar impecavelmente vestida e preparada para as aulas da professora italiana Ana Mascolo, no Conselho Português de Dança. E ao final do dia ainda ter tempo para dar lições a quem quisesse aprender.A dança, no seu caso, até pode ser uma questão genética. Porque um dia a mãe também quis ser bailarina. Só não seguiu a profissão porque a avó não deixou. “Eram outros tempos, a minha avó achava que não era de bom-tom andar a mostrar as pernas aos outros”, refere a mulher de baixa estatura mas alma grande sentada à nossa frente. No seu caso, diz, os pais sempre apoiaram o seu sonho. Curiosamente, o maior incentivo veio do pai. “Quando disse que queria seguir a dança o meu pai respondeu-me – «faz sempre o que mais gostares». Ele trabalhou a vida inteira numa fábrica sem gostar do que fazia…”. Dos cinco aos 16 anos fez ginástica rítmica desportiva. Aos 18 teve a sua primeira experiência como professora. “Dava aulas numa pequena sala de uma casa particular, nos Riachos (Torres Novas)”, diz a rir, fazendo jus ao seu lema – pode-se dançar em qualquer lugar, basta haver vontade. Foi Pedro Rocha, um músico de Riachos, que a incentivou a procurar a professora Ana Mascolo, um dos grandes nomes da dança a nível nacional e internacional. “Tem jeito, falta-lhe a técnica”. Foi o que Helena Azevedo quis ouvir. Ainda se lembra do dia em que entrou no banco para pedir um empréstimo de cem contos (na nova moeda cerca de 500 euros). “O curso de Ana Mascolo tinha a duração de dois anos e tinha-se de pagar cada ano à cabeça”. Com 18 anos e sem trabalho permanente era difícil alguém lhe emprestar tal quantia mas a sua “actuação” junto do funcionário do banco foi tão convincente que conseguiu os seus intentos. De tal modo que o mesmo banco lhe financiou também o segundo ano do curso. De início, as crianças de quatro anos que tinham aulas com Ana Mascolo olhavam, entre desconfiadas e surpreendidas, para aquela mulher “alta” que dançava com elas. Mas depois acostumaram-se, como Helena Azevedo se acostumou a ser a única adulta numa sala de aulas para iniciados. “Como não tinha técnica, tive de começar o curso pela base, com os mais pequenos”.As crianças ocupam hoje, 24 anos depois, o centro do seu mundo, profissional e pessoal. Através da escola que criou – a gestos do corpo – Helena Azevedo dá aulas no Teatro Virgínia a 83 meninas e três rapazes, com idades compreendidas entre os dois e os 17 anos. Mais do que dançarina ou professora de dança, Helena diz ser “educadora”. “As crianças não sabem ser hipócritas. Têm uma alma pura”, diz quem sente que dá o seu contributo para mostrar caminhos e abrir horizontes às suas pequenas alunas e amigas. Do mesmo modo que o faz com os seu quatro filhos, a mais velha com 17 anos, o mais pequeno com quatro. As suas paixões. “Ainda bem que Deus me deu filhos”.

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