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Fatias de Cá estreia novo espectáculo no Cartaxo na entrega de prémios de O MIRANTE

Fatias de Cá estreia novo espectáculo no Cartaxo na entrega de prémios de O MIRANTE

História de uma amizade em tempo de ditadura

Dois actores do Fatias de Cá sentam-se à mesa sob a luz do candeeiro a relatar as histórias de dois homens separados pelo mar num tempo de ditadura. A 8 de Fevereiro, no Cartaxo.

Max senta-se à secretária a escrever uma carta. O papel está timbrado: “Schulse-Eisenstein Galleries – San Francisco, Califórnia, USA”. O destinatário é longínquo: “Herr Martin Schulse – Schloss Rantzenburg – Munique, Alemanha”. Os protagonistas da história estão distantes, mas o palco aproxima-os. Dois homens, duas cadeiras e a luz ténue dos candeeiros. É este o ponto de partida da nova peça do grupo de Teatro Fatias de Cá, “Desconhecido Nesta Morada”, que apresenta o novo espectáculo a 8 de Fevereiro, no Centro Cultural Município do Cartaxo, durante a cerimónia de entrega de prémios “Personalidades do ano 2006” de O MIRANTE.Na peça, adaptada do conto de Kathrine Kressmann Taylor, com versão teatral de Carlos Carvalheiro, a história decorre ora na terra do El Dorado, ora na Alemanha de 1932. Em palco Max Eisenstein, judeu americano, proprietário de uma galeria de arte em São Francisco, Estados Unidos da América. E Martin Schulse, sócio alemão de Max que regressou à Alemanha em 1932. Em pouco mais de 30 minutos decorrem dois anos da vida real dos personagens relatados na minúcia de cartas trocadas. “Então de volta à Alemanha! Que inveja!(…) Por mim, não posso dizer que seja assim tão feliz. As manhãs de domingo fazem-me sentir um solteirão solitário. (…) Agora vou a um restaurante e diante do meu solitário bife sou assaltado por visões de gebackener Schinken a fumegar no vinho da Borgonha” escreve Max. A resposta surge um mês depois. Trocam-se as moradas. “Estamos já instalados, mas que trabalheira! O palacete, como sabes, há muito que me andava na ideia: trinta assoalhadas e um parque com mais de cinco hectares (…). Os alimentos de boa qualidade têm um preço elevadíssimo e a instabilidade política é grande, mesmo agora com a presidência de Hindenburg, um grande liberal que admiro bastante. Não fazes ideia da pobreza que vai neste país”, relata Martin.O texto da peça fala do nazismo com a leveza própria da mulher que o escreveu, uma jornalista nascida numa família modesta de origem alemã em 1924. Carlos Carvalheiro, que aposta num figurino simples e em quase nenhum movimento, tem esperança de que as palavras prendam o público. Deixou de lado os guiões românticos da “Tempestade” de Shakespeare ou de “Corto Maltese” de Hugo Pratt – e de outras 46 produções do grupo – para se voltar para um conjunto de monólogos preparado para o espaço de um cine-teatro que pretende lançar a discussão sobre temas políticos, contrariando a tendência actual. No espectáculo do Cartaxo o debate político ainda não será estreado, mas Carlos Carvalheiro lembra que a peça não morre no Cartaxo. Daqui a dois meses “Desconhecido Nesta Morada” prepara-se para uma carreira no Cine-Teatro de Constância. De Março a Junho. Marcelo Rebelo de Sousa é o primeiro convidado que Carlos Carvalheiro gostaria de ver comentar o tema. “Parece uma altura muito complicada com a ascensão do nazismo na Alemanha, mas na verdade pode ser semelhante a todo um mecanismo de fanatismos ou nacionalismos a que era melhor estarmos atentos ao mundo para que não acontecessem coisas como as que levam o Saddam Hussein ser enforcado. Que coisas são essas que se estão a passar? Nós também nos interrogamos…”. A peça é pretexto para falar de política, mas na base tem a história de dois homens comuns. Dois alemães que emigraram para a América. Um ficou, outro regressou, resume Carlos Carvalheiro lembrando que o final da peça, com 21 momentos, é imprevisível. “Corre o risco de ser chato, mas achei que é o melhor libelo contra o nazismo. Contrariamente àquilo que é comum acaba por explicar que o bem e o mal não se dividem”.
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