A história da Águas do Ribatejo acabou mal. Quem lhe escreveu o epílogo foi o romancista Francisco Moita Flores, agora presidente da Câmara de Santarém, que não estava dentro do enredo quando ele começou a ser moldado. O autarca da capital de distrito puxou dos galões e marcou posição no contexto regional. Farto de questiúnculas e de alimentar uma guerra com o administrador da Comunidade Urbana da Lezíria do Tejo (CULT) que dificilmente venceria, dado o apoio dado a António Torres pela direcção da comunidade urbana, optou por escolher outro caminho. O seu caminho. E assim vão nascer as Águas de Santarém, uma empresa municipal semelhante na forma à Águas do Ribatejo. Mas com as vantagens de ninguém questionar o município pelo encaixe de capital resultante da parceria privada e de a Câmara de Santarém ficar com o controlo estratégico e de gestão da empresa.É óbvio que a situação não é famosa para os restantes oito municípios, que vêem ruir um projecto onde se empenharam e tentaram dar o seu melhor. É óbvio que Santarém vai continuar a ser acusada de falta de solidariedade para com concelhos mais pequenos que viam na Águas do Ribatejo a solução quase milagrosa para financiar os necessários investimentos nas redes de água e, sobretudo, de saneamento básico. Mas há uma questão que é incontornável: Portugal entrou na União Europeia há mais de vinte anos (alguns autarcas da Lezíria já eram então presidentes de câmara, outros foram eleitos poucos anos depois). Desde essa altura pingaram no nosso país milhões e milhões de contos e de euros. Passaram-se três quadros comunitários de apoio (cada um com sete anos) e a taxa de cobertura ao nível do saneamento básico só nos pode envergonhar. Para além disso há outra certeza: os esgotos a céu aberto que correm no centro da cidade de Santarém (e também nos outros concelhos) não são culpa de Moita Flores. João Calhaz