uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Helena Neves sempre quis ser enfermeira

A visita domiciliária aos utentes acamados é o ponto alto da sua profissão

Desde pequena que Helena Neves quis vestir a bata branca, que para ela simboliza muito mais que os meros tratamentos de enfermagem. “Uma enfermeira tem de dar saúde ao doente” é o seu lema.

Sempre quis ser enfermeira, influenciada pelos filmes que via na televisão. “Adorava ver aquelas pessoas de bata branca tratar das pessoas e dizia que quando fosse grande queria ser como elas”, diz Helena Isabel Ferreira Neves, de Torres Novas. Um sonho que a perseguiu durante a juventude e a fez escolher a vertente da saúde quando teve de optar por uma área escolar. Tirou o bacharelato em Santarém, na Escola Superior de Enfermagem. O curso ultrapassou as suas expectativas e abriu-lhe novos horizontes sobre a profissão. “As pessoas têm a ideia, e eu também tinha na altura, que ser enfermeira é fazer pensos e dar injecções. Mas uma enfermeira é muito mais que isso. É também amiga e confidente”.Iniciou-se na profissão no Hospital Pulido Valente, em Lisboa. Apesar de ter gostado diz não trocar por nada o trabalho que há meia dúzia de anos faz na pequena extensão de Carrazede, concelho de Tomar. “São trabalhos completamente diferentes, embora dentro da mesma área”, refere, adiantando que a grande diferença está no modo como é tratada. “Em Lisboa era apenas mais uma enfermeira, aqui há um relacionamento muito mais próximo e pessoal, faz com que eu me sinta muitas vezes como da família”.A visita domiciliária que faz aos utentes acamados da área da extensão de saúde onde trabalha é o ponto alto da sua profissão. “Gosto de tudo, mas fazer domicílios faz-me realmente sentir que ser enfermeira é acima de tudo cuidar dos outros”. E não são raras as vezes que depois do doente tratado a enfermeira é convidada para beber um chá ou até sentar-se à mesa para almoçar. Um relacionamento impensável quando se trabalha num hospital. “Quando bato à porta de um utente, respondem-me muitas vezes «entre que a casa é sua». E sinto-me realmente em casa”.Em muitas situações, Helena Neves acompanha o percurso de toda a família. “Trato dos avós, dos pais e dos netos”, diz, adiantando ser muito gratificante acompanhar por exemplo um utente desde que ele ainda está dentro da barriga da mãe até ele ser crescido. Não é por acaso que quando vai às escolas da área de abrangência da extensão, para fazer a saúde oral (dar o flúor) ou fazer sessões temáticas sobre alimentação ou vacinação – muitos alunos dizem logo à professora que já conhecem a enfermeira Helena “lá de casa”. O que a deixa com a certeza que hoje em dia a enfermeira já não é vista como um “papão”. “Antigamente as crianças tinham pavor das enfermeiras, daquela pessoa de bata branca que dava «picas». Isso hoje já não funciona assim, talvez porque as crianças estão também muito mais informadas”.Informada tem também de andar a enfermeira, sempre a par da evolução da profissão. “Não basta tirar o curso e pronto, pensar que está tudo aprendido”. Ciclicamente Helena Neves faz acções de formação e há dois anos acabou a licenciatura. “Foi um bocadinho difícil de gerir tudo, com duas filhas pequenas. Mas com algum esforço e boa vontade fez-se”, diz, adiantando ter sentido necessidade de acabar o curso. “Fiz o bacharelato há 14 anos e era preciso acertar o passo porque o sector da saúde está em constante evolução”. Na zona onde trabalha não há casos de abandono ou de falta de acompanhamento de utentes. O centro de dia faz o apoio aos doentes que estão sozinhos e acamados, levando-lhes refeições e limpando as suas residências. “É muito raro encontrar alguém completamente desprotegido, como infelizmente vemos acontecer em outros locais”.Em ocasiões especiais, como por exemplo nas alturas da Páscoa ou do Natal, Helena é surpreendida com utentes que lhe trazem couves ou laranjas. “Esta é uma zona muito rural e quase toda a gente cultiva hortas ou tem árvores de fruto e às vezes trazem algumas coisas para me darem. Dizem que têm muito e que depois estragam-se e, embora não me agrade muito este tipo de coisas, acabo por aceitar porque sei que é do coração”, diz a enfermeira, adiantando preferir pensar que se trata de um “mimo” que o utente quer fazer a quem o trata.É por isso que, diz, mais que fazer um curativo numa ferida, dar uma injecção ou pôr um penso, é muito importante pôr o doente confortável, à vontade. Como Helena gosta de dizer, “uma enfermeira tem de dar saúde ao doente”.

Mais Notícias

    A carregar...