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Rachmaninófico Serafim das Neves

Rachmaninófico Serafim das Neves

Uma onda de ameaças paira no ar. Ameaças bem portuguesas, felizmente. Daquelas que morrem cedo nas gargantas dos promitentes executores. O bombástico Amândio de Freitas que nos seus tempos áureos de líder do campesinato era uma ameaça permanente apontada à garganta dos ministros da agricultura, surge agora, investido nas funções de Presidente da Junta de Freguesia de Benfica do Ribatejo, a ameaçar o Governo com um corte da Estrada Nacional 118 se não for colocado mais um médico na extensão de saúde lá da terra. Empresários do Porto Alto seguem-lhe o heróico exemplo e ameaçam cortar a Estrada Nacional 10 se o Instituto das Estradas não fizer desaparecer da face da terra o muro da vergonha de dois quilómetros que divide ao meio aquele estratégico eixo rodoviário. A Assembleia Municipal de Tomar e a CDU de Torres Novas prometem atiçar o povo às canelas do Ministro da Saúde se ele insistir na reestruturação das urgências hospitalares. E até o vice-presidente da Câmara do Entroncamento, o sempre enérgico Luís Boavida, pondera meter em tribunal o Bloco de Esquerda em peso para saciar a sua sede de justiça.Organizações reivindicativas de todo o mundo têm os olhos postos no Ribatejo. Observadores internacionais disfarçados de peregrinos de Fátima invadiram a região. Os líderes mundiais receiam um novo Afeganistão. As ameaças nacionais têm fama em todo o espaço interplanetário. Há notícia de actividade sísmica em Mercúrio e de erupções vulcânicas em Plutão. O Universo carrega o cenho. O Papa reza pela paz. Chefes de outras Igrejas arrancam os cabelos da cabeça em desespero. Eu próprio já roí as unhas dos pés até ao sabugo após ter devorado as das mãos ao pequeno-almoço. Será desta que vai tudo pelos ares? A pergunta esguicha nas gargantas dos cidadãos a uma só voz. Para agravar esta situação de recorte balcânico rebentam outros focos de conflito. Um pedreiro de Santarém ameaça partir as fuças ao encarregado se ele voltar a chatear-lhe a cabeça por causa da consistência da argamaça. O Presidente da Assembleia Municipal de Almeirim, um tal Armindo Bento, que de bento parece não ter nada, jura a pés juntos que não apoiará uma recandidatura a presidente da Câmara, do seu camarada Sousa Gomes. O Presidente da Federação Distrital de Santarém da agremiação socialista, de bigode eriçado, ameaça o desbocado Bento de levar com um processo em cima. Eu todo tremo perante tanta ameaça. Se não me abaixo ainda sou ameaçado pela nova vizinha da frente. Um ameaço já eu tive. Ontem mesmo ela apontou-me ao peito aqueles dois mísseis que ostenta com inusitado orgulho e ainda se riu por cima quando viu o susto que apanhei. Isto é de loucos Serafim. De loucos!Este síndrome das ameaças pode virar pandemia ou lá que é isso. É que o pessoal de tanto ameaçar fica com a garganta inflamada. Quem fica a ganhar com isto são sempre os tipos das pastilhas para a rouquidão. Só os imagino com grandes casas e brutos carros. São eles e os jogadores de futebol. Ainda ontem ouvi um desses bravos rapazes, com uma camisola de riscas verdes e brancas, dizer que tinha que se aplicar para poder concretizar o sonho da sua vida, ter um Porche. Pelo menos ao nível da bola há estabilidade. Os sonhos dos jogadores de futebol de ontem continuam a ser os sonhos dos jogadores de hoje. Os políticos deviam pôr os olhinhos ali.Um bacalhau sem ameaça de espinhas do Manuel Serra d’Aire
Rachmaninófico Serafim das Neves

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