O homem que arriscou a vida para ajudar a conquistar a liberdade
Um homem de olhar vivo põe as mãos no balcão da venda de livros da sede do PCP. Na rua Soeiro Pereira Gomes, em Lisboa. É António Dias Lourenço, o operário revolucionário de Vila Franca de Xira que se evadiu do forte de Peniche e durante 17 anos assumiu a direcção do jornal oficial do partido “O Avante”. O jornal já vive sem o correr da pena do revolucionário, mas António Dias Lourenço não vive sem o cheiro da redacção. Tem lugar cativo numa sala onde trabalha ao ritmo dos seus 92 anos. “Fiz há pouco 29 anos”, diz a brincar. Nem os anos de reclusão nos calabouços de Peniche lhe retiraram a vontade de continuar a lutar. Nem a perda de um filho, aos dez anos, que não resistiu a uma leucemia.António Dias Lourenço viveu os horrores da tortura, mas é um homem profundamente afável. Fala das três filhas com orgulho. As recordações das três mulheres com quem viveu deixam transparecer alguma decepção na vida amorosa de quem casou aos 18 anos. Dezoito foram também os anos passados atrás das grades. Da primeira vez fugiu ao fim de cinco anos e um dia. Oito anos depois foi preso outra vez e lá esteve até ao 25 de Abril. Casou duas vezes e o convite para dar o segundo nó foi feito a partir da prisão. Tal como a proposta de divórcio. “Nós os que estávamos na clandestinidade não tínhamos tempo para namorar. Decidíamos juntar os trapinhos sem dar contas a ninguém”, ilustra.O menino que viveu a infância em Vila Franca de Xira aderiu aos 13 anos ao PCP. Pouco depois de começar a trabalhar na aviação de Alverca. Já com o diploma da escola industrial. Daí seguiu para a Sodapóvoa acompanhando o movimento operário. Sobrevive com o ordenado de funcionário do PCP. A pensão de 11 anos como deputado é entregue directamente ao partido. “Nem me pergunte quanto é que já nem me lembro”, diz o homem que assumiu de bom grado o risco de ser morto. “Assumíamos o risco para conquistar a liberdade”.
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