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Companhia das Lezírias e Estação Zootécnica ensaiam ração natural

Objectivo é produzir carne rica em Ómega 3, uma gordura saudável

Investigadores trabalham há oito anos no estudo da composição dos ácidos gordos alimentares de origem animal

A Companhia das Lezírias e a Estação Zootécnica Nacional (EZN) vão realizar, a partir de Maio, ensaios para lançar no mercado uma ração natural, que enriquecerá a carne dos ruminantes com gorduras saudáveis. Vítor Barros, presidente da Companhia das Lezírias (CL), disse à agência Lusa que, pela primeira vez, a empresa está a produzir linho forrageiro em 75 hectares de terreno para ser adicionado, em quantidades a determinar pelos investigadores da EZN, na ração do gado bovino, de forma a criar uma fileira de qualidade, de carne rica em ómega 3.Rui Bessa, investigador da EZN, disse à Lusa que a sua equipa trabalha há mais de oito anos no estudo da composição dos ácidos gordos alimentares de origem animal, tendo desenvolvido vários ensaios que passaram pela alteração da dieta alimentar e pelo maneio dos animais. O objectivo é conseguir, sem recurso a qualquer tipo de químicos, aumentar a produção de CLA (ácido linoleico, potente anti-cancerígeno e inibidor da acumulação de gorduras nos tecidos) e de ómega 3 (uma gordura “boa”, com características benéficas para a saúde, nomeadamente na prevenção de doenças cardiovasculares e da visão, desenvolvimento do cérebro dos fetos e dos bebés e anti-inflamatório), que entrarão depois na alimentação humana.Rui Bessa frisou o facto de o ómega 3 se encontrar essencialmente nos produtos do mar e nas verduras, pelo que as populações em que estes alimentos estão pouco presentes têm um défice desta gordura “boa”. Os investigadores da EZN têm introduzido na alimentação dos ruminantes lípidos poli-insaturados - óleos de peixe e vegetais, como os de girassol, para o enriquecimento em CLA, e de linho, para obtenção de ómega 3.“Isto permitirá a revalorização da carne de ovino e bovino produzida em sistemas extensivos, como alimentos naturais com uma relação ómega6/ómega3 baixa, e portanto favorável”, sublinhou o investigador num artigo publicado na revista Investigação Agrária.Num ensaio realizado com borregos, os investigadores verificaram que elevando a inclusão de óleos vegetais (no caso óleo de soja) em dietas à base de forragem seca, “sem comprometer a eficácia digestiva e produtiva”, o teor em CLA aumentou. “Os teores em isómeros conjugados do ácido linoleico (CLA) triplicam na carne de borregos alimentados com luzerna desidratada suplementada com sete por cento de óleo de soja quando comparada com o tratamento de controlo (sem adição de óleo vegetal)”, acrescentou Rui Bessa.Além do projecto com a Companhia das Lezírias, para enriquecimento da carne de bovino em ómega 3, a equipa tem desenvolvido, com a Danone, o enriquecimento do leite em CLA, adiantou. Sublinhando que as investigações em curso na EZN se inserem numa rede que envolve investigadores de outros países, Rui Bessa afirmou que existem igualmente ligações com outras instituições nacionais, como a Universidade dos Açores, o Instituto Abel Salazar, a Faculdade de Medicina Veterinária.Com a Universidade dos Açores, uma região “naturalmente privilegiada” pela existência de pastagens verdes praticamente durante todo o ano, está a ser estudada a forma de aumentar a concentração de CLA, disse. A linha de investigação iniciada por esta equipa pode agora desenvolver-se noutra vertente que permitirá autentificar os produtos tradicionais, adiantou.Durante três anos, a equipa desenvolveu um projecto, ao abrigo do programa Agros, que visa a implementação de um sistema integrado de rastreabilidade e autenticidade de carne de ruminantes. “Analisando as carnes, leite ou queijos podemos aferir a sua autenticidade, nomeadamente se cumprem o caderno de encargos de uma determinada Denominação de Origem Protegida (DOP)”, afirmou, adiantando que “a química analítica fina acoplada a técnicas estatísticas adequadas possui enorme potencial de se tornar um método expedito de comprovação do sistema de produção e mesmo da origem geográfica dos produtos”.

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