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Resplandecente Manuel Serra d’Aire

Agora percebo porque é que o presidente da Câmara do Cartaxo numa conferência de imprensa para apresentação de um novo movimento pró-aeroporto na Ota pediu aos jornalistas para fazerem perguntas pela positiva. Porventura ainda habituado à melodiosa entrevista que a conceituada jornalista Ana Sousa Dias lhe fez para a revista da CCDRLVT, aquela música soou-lhe mal. E tem toda a razão Paulo Caldas. Foi como sair de uma sinfonia de Beethoven para um festival de heavy metal. Os autarcas, políticos, dirigentes desportivos e afins não podem ser tratados dessa forma. É imperioso que os jornalistas percebam que até fazer perguntas tem as suas regras. É como contar anedotas do primeiro-ministro, sobretudo se forem acerca das suas insuspeitas habilitações literárias.Eu ia até mais longe. Acho que deviam ser os nossos augustos políticos, sobretudo se tiverem a aptidão para a escrita e para a oratória que tem Paulo Caldas, a escreverem as notícias e reportagens, a conduzirem as entrevistas fazendo perguntas e dando respostas. Os jornalistas assinavam e recebiam o deles ao fim do mês e estava feito. Assim não havia incómodos com desmentidos, esclarecimentos, direitos de resposta e processos judiciais para repor a verdade dos factos deturpada por essa cáfila de aldrabões que são os jornalistas.Portugal tem que ser um país pela positiva. Os esgotos continuam a correr para o Tejo? Qual é o problema? Sempre correram e o rio não acabou. Assuma-se isso como uma fatalidade histórica. Um dos muitos fados em que somos pródigos. E que ainda por cima tem contrapartidas ecológicas positivas. A matéria orgânica é importantíssima para o ecossistema. A fataça extinguia-se em três tempos se não tivesse merda para comer. E assim lá se iam pitéus pitorescos como a fataça na telha. Aliás deixo a sugestão a Ana Sousa Dias ou a Fernanda Câncio para futura reportagem na revista da CCDRLVT sobre este relevante assunto. Não há que ter vergonha por não termos estações de tratamento de esgotos a funcionar em muitos concelhos ribatejanos. Basta analisar esse facto pelo prisma da preservação de uma espécie piscícola de sobeja importância como é a fataça e está dada a volta ao texto. Pela positiva, claro. E os autarcas ainda se arriscam a receber uma medalha da National Geographic e do movimento Save the Whales…Terá sido aliás com esse espírito aberto e benevolente que o presidente da Câmara Municipal de Almeirim quis pôr os jornalistas a escreverem sobre as virtudes do seu concelho dando umas lecas ao vencedor. Admito que seria difícil, enfim, encontrar matéria para encher meia página… Mas com um bocado de imaginação a coisa fazia-se. E digo bem: fazia-se! Não fosse o caso de algumas donzelas impolutas terem posto a boca no trombone e estragado tudo. Que aquilo era uma afronta à ética e a deontologia da classe e outras tretas do costume. Quem não os conheça que os compre. Eu pelo menos sou franco: 250 euros nos dias que correm faziam-me um jeitão. Nem que tivesse de ser a fazer jornalismo pela positiva.Um abraço do ressabiado Serafim das Neves

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