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Um jovem fascinado pela arte de trabalhar a prata

Mário Bicho é joalheiro com oficina em Tomar

Tem meio milhar de peças feitas em stock. Todas diferentes, únicas no design mas idênticas na matéria-prima. Há algumas pelas quais Mário Francisco Bicho, joalheiro de prata, tem uma adoração especial. “Só as vendo em último caso”.

É nas traseiras da vivenda dos pais, em Tomar, que Mário Bicho tem a sua oficina. É ali que o jovem de 30 anos dá azo à sua imaginação e produz peças exclusivas. Não tem loja aberta mas encomendas não lhe vão faltando, de clientes que apreciam o seu trabalho nas diversas feiras do país onde expõe. No dia em que O MIRANTE visitou o joalheiro havia dezenas de peças em cima da mesa da sala, muitas ainda embrulhadas, outras colocadas nos expositores de veludo negro. Tinham estado expostas nas festas de Ourém e seguiam no dia seguinte viagem para Lisboa, para mais uma exposição na FIL.Alfacinha de gema, Mário veio viver com os pais para Tomar há cerca de seis anos. O irmão mais novo está a estudar no politécnico da cidade e os pais, reformados, decidiram deixar a capital e instalar-se na cidade ribatejana, para estar mais perto do filho. Foi mais ou menos nessa altura que Mário terminou o curso de joalharia em prata, em Gondomar.O único que terminou, dos três que começou. Quando acabou o 12º ano o jovem não sabia muito bem o que profissionalmente queria fazer, embora a sua inclinação artística indicasse que o futuro passaria por qualquer coisa ligada à arte. Entrou num curso de fotografia mas depressa percebeu que não era bem aquilo que queria. O curso de conservação e restauro também ficou pelo caminho.Porque “não era de ficar parado” acabou a vender artesanato, bijutaria e artigos em pele na avenida Augusta, em Lisboa, por conta de outrem. Foi aí que, no vai e vem apressado dos transeuntes, se iniciou na arte. “Comecei a aprender a mexer com os alicates e a fazer fios. Tinha que me entreter com alguma coisa”, justifica. Descobriu então que havia uma escola profissional de joalharia, no norte, e decidiu inscrever-se. Entrou em 1998 e, como diz meio a brincar, “esse curso acabei”.Durante três anos aprendeu a trabalhar a prata de forma tradicional, embora com recurso às novas tecnologias. Tecnicamente, diz, o curso até superou as suas expectativas. Lembra-se da primeira peça que fez – uma cruz – que ofereceu à avó. A mãe, que com o pai sempre apoiou as suas escolhas, recebeu uns brincos e um anel. Em cima de um móvel da sala estão expostos uma jarra e um cálice, produzidos também durante o curso.Hoje Mário Bicho dedica-se mais aos acessórios de moda e menos às peças decorativas. O que mais vende são fios, gargantilhas e anéis, embora os brincos também tenham muita saída. Os anéis são as peças que mais prazer lhe dá executar, os brincos nem por isso. Em cima das bancadas da oficina estão limas, alicates, um maçarico e uma adrasta (um ferro que dá forma aos anéis). Depois de feito o desenho de cada peça – confessa que esta é a parte que menos gosta porque nunca teve grande jeito para desenhar – é altura de o transpor para a matéria-prima, de o moldar e de, com exactidão e perfeccionismo, fazer sair o trabalho final. A prata é comprada em chapa e/ou fio, dependendo da forma da jóia. A maioria das peças é criação sua. Outras são feitas à medida de cada cliente. Alguns até trazem desenhos feitos. Vende também para lojas de artesanato e para uma galeria de moda, em Lisboa. Em Tomar, há peças suas expostas no edifício municipal de turismo e na loja do Cine-Teatro Paraíso. Admite que se tivesse um site na Internet ou uma loja online poderia escoar mais produto, adiantando que são projectos a executar num futuro próximo. O jovem joalheiro diz que a profissão já compensou mais, quando a matéria-prima era mais barata, mas não desanima e segue em frente porque, como diz, não são todos que têm o privilégio de fazer o que gostam.

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