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Esclarecimento de um equívoco sobre o Teatro Salvador Marques

O jornal O MIRANTE tem acompanhado o processo "Teatro Salvador Marques" usando, por vezes, as palavras dos intervenientes como condutores de opinião. Desta vez, no seu número 776, (Edição de 20 de Junho), sobressaiu o tema da pornografia, servindo também de mote para uma pequena piada na sua secção "Guarda Rios" (Pornografia  e a ruína do Teatro Salvador Marques). Independentemente do conteúdo humorístico da peça, importa levar aos leitores um esclarecimento acerca desta questão, fundamentada num estudo de carácter histórico e antropológico sobre o Teatro Salvador Marques que tenho desenvolvido no âmbito de um Mestrado em Estudos de Teatro para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.Trata-se de um dos espaços de Teatro mais antigos a nível nacional (inaugurado em 1905) que ainda conserva características de meios técnicos e espaciais hoje desaparecidos e que possui uma história muito rica ao nível do repertório, tanto de teatro como de cinema. Um breve relance revela que foi o local onde Alhandra acompanhou a evolução do cinema e foi até escolhido para a estreia nacional do filme “Um homem às direitas”, de Jorge Brum do Canto, em 1944. Há um acervo de memórias associado a este espaço que ainda não foi esquecido (sobre o qual não se conhece nenhum estudo feito) e constitui uma parte da história do concelho e do teatro português. No que toca à projecção de filmes pronográficos, ela constitui não o resultado  de uma escolha mas uma consequência de um contexto, que não foi exclusivo de Alhandra e que qualquer pessoa que estivesse viva e consciente na década de 70 e de 80 do século XX não pode hoje ignorar. As condições de aluguer a um empresário mais interessado em satisfazer os seus interesses financeiros do que dignificar o espaço alugado, associadas a uma inversão de valores provocada por uma liberalização consequente da censura, bem como a crise de 1979 que se sentiu no mundo do espectáculo e que se acentuou com a divulgação dos sistemas de vídeo nos anos 80 do século XX foram as condições que levaram à opção da pornografia que, pelos vistos, também não se popularizou, pois teve curta duração.Há muitos argumentos sobre o Teatro Salvador Marques que são hoje construídos sobre falsas verdades ou sobre leituras superficiais de processos históricos e culturais complicados. Neste caso, tratando-se de um deles que parece estar a ser usado como instrumento para diminuir a dignidade de um valor patrimonial municipal, penso que devia contribuir com este esclarecimento. Isabel Alice Radburn Nunes Vidal (Antropóloga)

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