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Investigação e mediatização

A propósito do caso da menina desaparecida, tem-se falado de eventual excessiva mediatização.Raramente, a divulgação de notícias prejudica a investigação.Bem pelo contrário, os infractores costumam acompanhar as notícias sobre o crime cometido e os media acabam por constituir um excelente meio de comunicação com eles, o que facilita a sua captura.Foi o que sucedeu com o Unabomber, o terrorista que, durante anos, colocou bombas assassinas em vários pontos dos Estados Unidos. Quando os jornais lhe franquearam as suas páginas, ele foi identificado.O mesmo sucedeu com os dois atiradores furtivos de Washington, que foram recebendo mensagens através dos canais de televisão, tendo respondido por cartas que conduziram à sua captura.A enorme divulgação que este caso português recebeu oferece algumas vantagens.Há quem diga que a mediatização pode ser inconveniente, mas sem explicar quais seriam os perigos. É que, realmente, não existem perigos.Obviamente, a mediatização fomenta uma investigação o mais escrutinada possível.Por outro lado, o criminoso deixa de ter grande interesse em ter consigo a menina raptada. Sabe que mantê-la consigo é arriscadíssimo. Tenderá a libertá-la.Por tal motivo, é que me parece improvável recuperá-la com vida. Torna-se imperioso fazer tudo por capturar o criminoso e fazê-lo pagar pelo terrível crime que cometeu. Mas não será fácil encontrar a vítima sã e salva. Por esta altura, já o criminoso estará longe da vítima.O primeiro objectivo da justiça é reparar o mal causado pelo crime. Neste caso, tal conseguir-se-ia se a menina fosse entregue aos pais, com vida.Depois, a justiça visa punir o criminoso que violou a lei. Tal sucederá se ele for capturado e levado a julgamento.Por vezes, alcançam-se as duas metas. Nalguns casos, apenas um dos fins é atingido.Quando nenhuma destas finalidades é obtida, está-se perante aquilo que, na gíria cinematográfica, se chama “crime por resolver”.Nesses casos, não me parece particularmente importante garantir que a responsabilidade não é da polícia.Evidentemente, quase sempre a própria vítima ou aqueles que a rodeiam dão algum contributo para que o crime ocorra. Até poderão dificultar um pouco a investigação se tiverem agido de certa forma.Imagine-se que uma senhora passeia-se à noite, numa rua mal iluminada e é violada. De seguida, toma duche, antes de ir ao hospital ou à polícia. Não se pode dizer que a responsabilidade é dela.Do mesmo modo, não é viável culpar os pais da menina por terem sido pouco vigilantes e terem deixado outras pessoas entrar em casa após o seu desaparecimento. Aliás, não se estava à espera que o criminoso deixasse um cartão de visita.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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