Assembleia de Coruche decide se é reposto busto de ministro de Salazar
Câmara remeteu decisão polémica para esse órgão perante críticas da CDU
A estátua do major Luís Alberto Oliveira foi arrancada após a revolução do 25 de Abril e desapareceu. Um movimento de cidadãos quer recolocar no espaço público um busto alusivo ao ministro de Salazar, abrindo caminho à polémica.
A Câmara de Coruche passou para a assembleia municipal a "batata quente" de se pronunciar acerca da proposta de reposição no espaço público de um busto alusivo ao major Luís Alberto Oliveira. Essa medida é reclamada numa subscrição pública que recolheu 1.313 assinaturas, entregue na autarquia no dia 6 de Junho. O busto do major, ministro da Guerra de Salazar em 1933/34, encontrava-se exposto junto aos paços do concelho e foi derrubado após a revolução de 25 de Abril de 1974, desconhecendo-se se está guardado ou se foi destruído.Na reunião de 20 de Junho, os vereadores da CDU votaram contra a proposta – aprovada pelo PS - de ser a assembleia municipal a decidir o destino a dar à petição, considerando que se trata de uma questão de toponímia e competência do executivo. Os comunistas consideraram no entanto que os objectivos da subscrição a favor da reposição do busto mais não são do que o reavivar dos ideais do antigo regime e questionam mesmo o que fez o major por Coruche e pelo concelho. O director do Jornal de Coruche, face visível do movimento de apoio à reposição do busto, considerou durante a reunião de câmara que o assunto não pode ser politizado. E lembrou que são factos e dados recolhidos no arquivo da Torre do Tombo que justificam a sua proposta e não ideais políticos. Abel Matos Santos recordou a importância do antigo governante na construção das pontes de Coruche, na criação do saneamento básico, escolas e do bairro Novo. “É obra e não conversa sobre um homem que sempre mostrou ter preocupações sociais importantes. Um coruchense que nasceu pobre e pobre morreu”, argumentou. Revelou ainda que da lista de 1.313 assinaturas constam nomes de elementos do PCP, de deputados do partido e mesmo de pessoas do Comité Central. “Quem politizou o assunto foi PCP”, acrescentou. Para o presidente da câmara, a discussão sobre os méritos ou não do major foi inquinada por questões políticas e ideológicas. Lembrou Dionísio Mendes (PS) que as revoluções costumam derrubar símbolos e colocar outros novos e que a praça da Liberdade também já teve, noutros tempos, os nomes de praça do Comércio, 5 de Outubro e Salazar marcando cada época. “Não conheço bem a figura do major, mas parece que teve alguma notoriedade nacional e se empenhou no desenvolvimento da vila e do concelho. Entendo que a assembleia municipal, como órgão máximo, deve analisar a proposta da recolha de assinaturas”, justificou.Recorde-se que a assembleia municipal de 27 de Abril aprovou uma moção da CDU que se opunha a qualquer tentativa de reposição do busto de Luís Alberto Oliveira e recomendava ao executivo municipal que assumisse idêntica posição. Os comunistas conseguiram que se aprovasse, com os votos contra do PSD e abstenção dos vogais do PS, o que apelidaram de campanha de branqueamento de um período negro da história de Portugal. No texto mencionava-se que o major foi ministro de Salazar no período em que foi institucionalizado o fascismo e aprovada a nova Constituição, com a proibição dos partidos políticos, implementação da censura prévia e criação da polícia política, entre outros actos.
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