A arte de transportar um tabuleiro à cabeça não é fácil para a maioria das jovens que vão integrar o grande cortejo do dia 8 de Julho. A imagem de mulheres com mãos à cintura, que vão dançando ao longo do percurso, é já uma raridade. Os trabalhos no campo permitiam uma maior resistência e confiança das mulheres. Actualmente, a maioria dos tabuleiros é transportado por jovens que, pouco habituadas a estas andanças, mal se atrevem a largar o tabuleiro que treme por cima das suas cabeças. E por isso treinam. Umas todos os dias, outras só ao fim-de-semana, e todas com receio de não aguentar o peso do tabuleiro e o percurso de quase três horas, ao longo de várias ruas da cidade. Não é o caso de Joana Salgueiro. Esta já vai ser a terceira vez que irá transportar um tabuleiro. “É uma emoção muito grande. Ninguém que está a ver sente o mesmo que quando se vai no cortejo. A primeira vez que fui, foi por brincadeira, mas foi viciante. Irei sempre, enquanto puder”, explica a tomarense. Desta vez, Joana irá ser acompanhada pelo pai, e um dia, quem sabe, fará par com o único filho.Francisco, com 7 anos, anda a treinar no meio da Corredoura (rua principal do centro histórico), lado a lado com a sua parceira Maria, de 6 anos. As mães contam que os dois brigam porque ambos querem transportar o pequeno tabuleiro feito de pão, papoilas e malmequeres. “Está a custar um bocadinho”, confessa a pequena Maria. A maior dificuldade é o vento, mas a menina que irá vestida toda de branco com faixa cor-de-rosa diz que não está com medo, nem nervosa com o primeiro cortejo da festa, que se realiza no dia 1 de Julho. Já o Francisco, conta a mãe, ao princípio não queria ir no cortejo por causa da gravata, cor-de-rosa como a faixa da companheira, mas depois de alguma insistência, o menino lá aceitou entrar na “festa dos pobres”, a definição que dá à Festa dos Tabuleiros.