Edição de 2007.08.23 1ª página Especial Pão, Vinho e Companhia Confraria trava batalha em defesa d ...
Confraria trava batalha em defesa dos produtos típicos
Melão, pão tradicional, vinho e sopa de pedra são o cartão de visita
Fardam-se a rigor antes de cada batalha. A sua guerra é travada à mesa em defesa das suas damas. O melão, o pão tradicional, o vinho e a sopa da pedra. Estão organizados num exército disciplinado e cortês que adoptou o nome de Confraria Gastronómica de Almeirim.
São bons garfos, mas não entram em exageros. Preferem a qualidade à quantidade. Dizem que não são papa-almoços, como muitos pensam, mas não resistem aos produtos tradicionais, como os de Almeirim que juraram defender. A sopa da pedra; o melão; as caralhotas (pão tradicional); os enchidos e os vinhos são “os grandes amores” da Confraria Gastronómica de Almeirim (CGA), criada a 14 de Maio de 2004. Barrete negro, típico dos lavradores de meados do século XIX, enfustado na cabeça, colete, jaqueta e calça de cós alto a condizer em cotim militar cinzento compõem as peças do traje da CGA. É assim que o confrade de Almeirim se mostra aos seus congéneres de outras confrarias do país. Muito diferente do habitual gabão que muitos confrades de outras confrarias envergam. A confraria fornece o tecido para o traje. A confecção fica a cargo de cada membro. Por 200 a 250 euros o problema do equipamento está resolvido.João Paulo Simões, 39 anos, natural de Almeirim, gestor de seguros, é o grão confrade da CGA. A honraria não lhe traz especiais benesses, garante. E nem come nem bebe mais que os outros confrades devido a esse estatuto. O cargo dá-lhe apenas mais responsabilidade e trabalho. Mas ele gosta. A CGA conta actualmente com 36 membros efectivos, quase todos entre 30 e 40 anos. Entre os 12 membros de honra figuram, o presidente da câmara, Sousa Gomes, o comendador Rui Nabeiro; o conhecido chefe Silva e o apresentador de televisão Manuel Luís Goucha.A porta da confraria não está fechada a ninguém. Mas também não está escancarada. João Paulo Simões admite que por vezes as confrarias são rotuladas como uma espécie de movimento maçon, de acesso muito restrito. “A entronização de um confrade tem um processo próprio. As pessoas podem candidatar-se e têm seis meses para nos acompanhar nas iniciativas. Ao fim desse período é decidido por votação, em assembleia-geral, quem entra e quem não entra”, explica. Segue-se o capítulo do juramento do novo confrade, que promete defender e divulgar os produtos de Almeirim. Não há mulheres na CGA. Pura casualidade, diz o grão confrade. Mas a organização não descura esse pormenor e está a pensar fazer um “forcing” junto das senhoras para as convencer a ser entronizadas. No grupo há confrades de peso e outros magricelas - daqueles que conseguem sempre surpreender pelo que comem e pelo pouco ou nada que engordam.O cuidado em admitir quem tenha maneiras é ponto assente. O facto de haver comida e bebida em quantidade e qualidade pode levar a excessos que não se desejam. “Preferimos a qualidade na quantidade certa. Não é ir a um local e ficar tudo grosso”, graceja. Muitas vezes, recorda, “trabalha-se mais a servir os outros do que a tratarmos de nós próprios”. Os pratos apresentados são muitas vezes confeccionados nos locais de destino. No casino da Figueira da Foz, onde durante uma semana a confraria promoveu os produtos de Almeirim, levou-se uma cozinheira e uma base para confeccionar a sopa de pedra do restaurante O Toucinho. A divulgação dos produtos é importante para o concelho. Apesar de a confraria não conseguir contabilizar os resultados da sua acção. “É difícil dizer que resultados têm as nossas acções, mas é visível que tem crescido a clientela nos restaurantes de Almeirim. Esse é um indicador”, explica João Simões.O vinho, a tradicional sopa da pedra ou o pão tradicional (caralhota), o melão e os enchidos são as estrelas da companhia. Do rol faz ainda parte o Bolo Finto, descoberto em recolhas pelo historiador António Cláudio. Um bolo que resulta das sobras da massa de pão, às quais se adiciona açúcar e canela.O livro “Tradições de Almeirim na Culinária”, daquele especialista em história local, apresentado em Junho, dá a conhecer todo um receituário do concelho. Mais uma achega para uma visita ao stand da Confraria no certame Pão, Vinho e Companhia, que começa sábado. O stand da confraria expõe as actividades e produtos da confraria e dará a conhecer a sua mascote, o frade da lenda da sopa da pedra.A CGA vive de um subsídio anual da câmara e das contribuições dos seus membros, que suportam grande parte das iniciativas e deslocações. Integra também o Conselho Europeu de Confrarias (CEU), cuja presidência roda todos os anos pelos países aderentes. Este ano a presidência calha à Grécia e os gastrónomos de Almeirim vão ter oportunidade de ir a um congresso na ilha de Corfu, em Novembro.O grande objectivo da CGA é encontrar uma sede. Um espaço próprio onde os confrades se possam reunir, realizar as assembleias e guardar o espólio constituído por lembranças das “batalhas travadas à mesa”.
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