Edição de 2007.08.23 1ª página Especial Pão, Vinho e Companhia Sousa Gomes desafia o seu maior crí ...
Sousa Gomes desafia o seu maior crítico no interior do PS a candidatar-se a presidente da Câmara de Almeirim
O autarca completa vinte anos à frente do município no final do mandato e diz que não se recandidata
No final do mandato o presidente da Câmara de Almeirim completa duas décadas à frente do município. Sousa Gomes acha que chegou a altura de sair e desafia o Presidente da Assembleia Municipal e seu maior crítico no interior do PS a candidatar-se ao cargo.
Alguém escreveu um dia que quase todos os homens sabem quando devem chegar mas são raros os que sabem quando devem partir? O senhor já anunciou a sua saída mas acabou por ficar. Está arrependido de ter ficado?Se falarmos da relação que tem existido entre os vários actores políticos do concelho é evidente que estou arrependido. Foi mau para mim não ter ido embora. Se falarmos da satisfação que se tem com a concretização de projectos importantes para o concelho e que continuam a deixar marca, ainda bem que fiquei. Não estou nada arrependido. E continuo motivado. O poder é viciante? É. Em certo sentido é. Não o poder pelo poder mas a possibilidade que o poder dá de fazer coisas em prol do bem comum. Os autarcas estão muitas vezes numa situação de ambivalência. Por um lado acham que devem partir mas por outro não conseguem partir porque são chamados para novos desafios. Não corre o risco de se sentir insubstituível?Não. De maneira nenhuma. Falo na satisfação pessoal de enfrentar desafios que me motivam a continuar mas não ponho de parte que outros pudessem fazer igual ou melhor que eu. Não sou daqueles que pensam que só eu sou capaz de fazer. Há outras pessoas que desempenhariam muito bem o lugar de presidente da câmara. Proximamente terão essa oportunidade. Já sabe qual o momento de partir?Em princípio vai ser no final deste mandato. Não devo sair antes. Estamos a trabalhar bem e não há motivo para isso. Só se fosse forçado a tal. Devo assumir o compromisso que tenho com o meu eleitorado até ao final do mandato, altura em que completo 20 anos à frente da câmara. Há alguns anos chegou a anunciar a sua saída e até indicou substituto. Agora também vai indicar substituto? Participarei na escolha mas deixo-a à responsabilidade do partido e da comissão política de secção. No concelho há pessoas com capacidade para exercer o cargo. Quem, por exemplo?O presidente da Assembleia Municipal, Armindo Bento. É uma pessoa com experiência e pode dar um bom presidente de câmara.Essa ironia tem a ver com as críticas públicas que ele lhe fez e com o facto de ele ter dito que se o senhor se recandidatasse ele não o apoiaria? Sem ironia. Acho até que neste momento tem o dever de aceitar candidatar-se à presidência da câmara. Para além disso tem o direito. Sobretudo o direito. E há outros vereadores que também têm condições…Francisco Maurício, por exemplo, que também se incompatibilizou consigo?Porque não. Todos têm o direito de se candidatar. Não tem poupado a concelhia do partido por esta não sair publicamente em sua defesa. O presidente da concelhia é o vereador Pedro Ribeiro. Está à procura de outra guerra? Eu recebo diariamente manifestações de solidariedade de militantes e dirigentes através de mensagens e telefonemas. Mas esse apoio nunca é revelado publicamente. Nem mesmo quando há pessoas que vão para os jornais atacar-me. Está criado um problema institucional com o vereador Pedro Ribeiro? Eu disse-lhe pessoalmente o que sentia. Até lhe disse que, mais tarde ou mais cedo, iria tomar posição pública sobre o silêncio do partido, como acabou por acontecer. Acho que a comissão política devia pronunciar-se.Quando, no início do ano, foi criticado publicamente pelo presidente da Assembleia Municipal e seu camarada de partido, Armindo Bento, quem lhe organizou um jantar de solidariedade foi a Federação Distrital do PS e não a Comissão de Secção. Isso engloba-se no que já disse sobre o silêncio da Comissão Política Concelhia. No facto de não revelar publicamente o apoio que me manifesta nas reuniões do partido. Há quatro meses houve uma reunião em que dei conta da estratégia que estava em marcha contra mim e pus à votação a minha posição e a dos meus opositores. O resultado foi 25 votos a meu favor e 2 a favor da estratégia da oposição. Dois votos de familiares. A estrutura do partido não divulgou esta posição política. Ninguém soube.O senhor tinha uma imagem de um político apaziguador mas nos últimos tempos tem revelado sinais de impaciência e irritação… Não nos podemos baixar sempre. Têm existido uma estratégia de ataque contra mim que não pode merecer a minha complacência. Não estou disposto a aceitar tudo. Em política não vale tudo. Quando se utilizam estratégias ofensivas como estas eu não posso estar calado.Alguma coisa se passa para isto acontecer nesta altura. Já pensou que o problema pode ser seu?Isto tem a ver com os processos de substituição. Quando se aproximam os finais de mandatos as pessoas que têm ambições políticas tentam fragilizar quem está no poder. Põem-se em bicos dos pés. Não temos polémica na câmara do Cartaxo? Não temos polémica na câmara de Odivelas? Não temos polémicas em tantas outras câmaras por esse país fora? Decidiu deixar de responder às perguntas que os vereadores lhe colocam nas reuniões do executivo, na mesma altura. É uma atitude defensiva?Socorri-me de uma disposição legal. Fiz isso porque acho que aquele à-vontade com que estávamos nas reuniões do executivo estava a ultrapassar os limites. Nós temos um período de antes da ordem de trabalhos que demora horas enquanto que a ordem de trabalhos, que engloba assuntos que interessam ao município, fica por discutir. A maior parte das discussões antes da ordem de trabalhos são estéreis. É aproveitada a presença da comunicação social para fazer passar a ideia que o presidente da câmara está no banco dos réus a responder ao que os vereadores entendem perguntar. A lei permite-me responder até dez dias depois e é isso que vou fazer.A situação dura há algum tempo porque é que só agora decidiu fazer isso? Nas denúncias que têm sido feitas sobre a minha gestão ao Tribunal Administrativo de Leiria, nomeadamente na última, feita pelo senhor vereador Francisco Maurício, é afirmado que eu não respondo aos vereadores no prazo legal, o que não é verdade. Mas já que o assunto foi colocado vou passar a cumprir os dez dias.
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