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O som das ocarinas feitas com barro, estore ou um bocado de antena de televisão

O som das ocarinas feitas com barro, estore ou um bocado de antena de televisão

Inocêncio Casquinha é um artesão de Alverca que se dedica a construir instrumentos originais

Um mau desperdício pode dar um bom instrumento. As mãos habilidosas de Inocêncio Casquinha aproveitam os materiais mais estranhos para dar vida a ocarinas, gaitas, castanholas ou flautas que o artesão usa para tocar.

É numa pequena garagem numa rua calma do bairro de Arcena, em Alverca, que Inocêncio Casquinha dá vida aos instrumentos musicais que fabrica como ninguém. O artesão e ex-animador cultural da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira conhece a história por detrás de cada um dos instrumentos que fabrica e estuda o folclore como poucos fazem. Tudo começou ainda em criança, quando Arcena ainda era uma zona rural e os meninos tinham que construir os seus próprios brinquedos. Inocêncio Casquinha tinha, como muitos, o hábito entretanto perdido de andar sempre com uma pequena navalha no bolso. Ele e os amigos construíam instrumentos musicais simples, através de pequenos golpes de navalha aplicados em pedaços de cana verde.Passados alguns anos, Inocêncio Casquinha e os amigos formaram um grupo de cantares e era Inocêncio quem fazia os instrumentos que usavam. Já lá vão quase trinta anos. “A partir daí comecei a interessar-me cada vez mais e a investigar”, explica. Em 1984 começou a utilizar também o barro nos seus instrumentos. “Como o tempo passa…”, deixa escapar, enquanto vai relembrando as várias fases do seu trabalho. Inocêncio Casquinha trabalhou na Mague como electricista entre 1965 e 1969 mas não são muitas as recordações que guarda desse tempo. Lembra apenas que “era uma fábrica com muita pujança” e lamenta o fim da empresa. “Foi enquanto lá estava que fiz a minha primeira viola”, recorda ainda, embora nunca se tenha interessado muito por instrumentos de corda. Trabalhou ainda numa outra empresa como electricista e também numa loja de material de escritório em Vila Franca de Xira. Mas nunca deixou de lado os instrumentos musicais e a pesquisa pelas raízes do folclore.Actualmente, continua ainda a colaborar com a autarquia em projectos esporádicos. No ano passado, desenvolveu um trabalho com o pelouro do ambiente com vista à sensibilização para a reutilização dos materiais. Com latas de atum, caricas ou garrafas de água, mostra aos mais novos que qualquer objecto tem potencial para ser um instrumento musical. “Guardo quase tudo o que possa servir para um instrumento”, confessa. Para além das tradicionais ocarinas de barro, o artesão fez uma ocarina a partir de restos de um estore e um pedaço de antena de televisão. “Isto desmonta a ideia de que um instrumento musical tem que ser sofisticado”, frisa.O artesão foi um dos responsáveis pelo projecto da Maleta Pedagógica que implementou no Museu Municipal de Vila Franca de Xira e também no Museu da Música Portuguesa, em Cascais. Uma maleta em forma de concertina continha o necessário para despertar os mais novos para a música. Em Vila Franca de Xira o projecto coincidiu também com um outro, intitulado “Música no Museu”, que envolveu a Tuna de Arcena, da qual Inocêncio Casquinha fazia parte. “Tinha uma primeira parte que consistia em falar dos instrumentos aos miúdos e depois na segunda parte actuava a tuna”, explica. O artesão era o elemento mais jovem e diz que saiu da formação porque “havia elementos na tuna com mais de 90 anos e era muito chato vê-los a cair um a um”. Inocêncio Casquinha recorda esse tempo com saudade e lembra até que “a malta pequena conhecia algumas músicas, como a “Rosa arredonda a saia” e cantavam connosco”. “A música quebrava barreiras”.
O som das ocarinas feitas com barro, estore ou um bocado de antena de televisão

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