uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Elas falam de nós

“Nós falamos delas e elas falam de nós”.É assim que uma amiga minha descreve o que se passa com as empregadas domésticas.As senhoras têm uma apetência especial para conversar sobre a pessoa que trabalha lá em casa. Umas vezes para apresentar queixas, outras para elogiar e, algumas, para comentar o modo de vida delas.Mas a verdade é que essas mesmas empregadas domésticas também não deixam de tecer comentários sobre os patrões. Exactamente nos mesmos sentidos.Certa vez, a minha cunhada Rita tinha umas análises clínicas marcadas, para realizar numa manhã de segunda feira. Poderia jantar na noite anterior, mas depois deveria ir em jejum total para o laboratório.O grande receio dela era levantar-se e, meio ensonada, abrir a porta do frigorífico para retirar um iogurte. Lá se iam as análises.Por isso, decidiu pegar numa folha de papel A4 e escrever, em letras garrafais: “Não Comer”. Afixou o papel com recurso a um íman. Assim, nunca se iria esquecer de ir em jejum.Ela recordou-se de que não poderia ingerir alimentos.Lá foi ser submetida às análises.Mas esqueceu-se de uma coisa. Não retirou o papel que estava afixado no frigorífico.Sucede que, nesse mesmo dia, começava a trabalhar, na casa dela, uma nova empregada doméstica.Deparou com aquele aviso: “Não Comer”.À noite, quando regressou a casa, a Rita tinha a resposta dada no próprio papel que introduzia a proibição.“Minha Senhora, eu já trabalhei em oito casas. Nunca comi nada sem pedir autorização”.O grau de instrução das empregadas domésticas é muito variável.Eu já tive uma empregada que era enfermeira parteira.Ganhava mais em Portugal naquelas funções do que, no seu país, a desempenhar a sua profissão.Também tive outra – essa portuguesa - que fazia alguma confusão com as palavras. Chegou a casa e reparou que tinha andado por lá algum ladrão.Telefonou-me e, para confirmar as suas suspeitas, perguntou:- Quantos alimentos tem a aparelhagem sonora?- Como, D. Clotilde?- Eram seis alimentos, não eram? Só lá estão cinco.O gatuno tinha-me levado o melhor elemento: um amplificador Yamaha.Nesta matéria, de um modo geral, a juventude é apreciada.Um amigo meu contratou uma senhora, que já não era nova. Tinha nascido cinquenta e cinco anos antes, dizia ela.No entanto, uma vez, baralhou-se com a idade do filho e a que ela tinha quando dera à luz. Pelas contas, já ia em 68 anos.O pior foi quando passou algum tempo e veio à baila a data de nascimento da senhora:- Agora é que eu vou mesmo dizer a verdade, Senhor Dr. Eu tenho 74 anos.A realidade é que era uma boa empregada doméstica.Mas revelar a idade talvez lhe dificultasse a obtenção de emprego.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

Mais Notícias

    A carregar...