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Contradições estampadas em telas de tecidos coloridos

Contradições estampadas em telas de tecidos coloridos

Carla Tavares é uma jovem artista plástica do Vale do Paraíso

É artista plástica, tem 26 anos e um lugar cativo numa galeria do Bairro Alto em Lisboa. Na tela aplica pedaços de tecido alegres e femininos sobre quadros de violência. Seja no desporto ou na guerra.

São lutadores de sumo. Os corpos quase se fundem no confronto físico. Os braços envolvem a cintura do adversário, mas as duas figuras surgem vestidas de tecidos coloridos e femininos. A contrastar com a violência do desporto que representam. Este é apenas um exemplo das contradições exploradas e estampadas na tela de Carla Tavares, 26 anos, uma artista plástica do Vale do Paraíso, Azambuja, com lugar cativo na Galeria “Novo Século” no Bairro Alto, Lisboa, que está a desenvolver dois projectos tendo por base a técnica mista. Puzzle de tecidos coloridos sobre a tela.As nódoas negras e vestígios de sangue da luta livre ou do basquetebol são apagados na tela com a sobreposição de tecidos. Os contornos de um dos atletas que se bate num quadro de luta são acentuados com renda preta e um laço vermelho sobre o ventre. “Procuro imagens desportivas, situações violentas e acabo por vestir as figuras com panos que têm um ar doméstico, mais feminino”, explica a artista. “Dissimulações” foi o nome da exposição que a artista apresentou já este ano na Galeria Municipal Maria Cristina Correia, em Azambuja. No concelho onde nasceu mostrou os desenhos abordando os desportos violentos, mas chamando também a atenção para a problemática da guerra.As figuras de nativos africanos que privaram com os combatentes portugueses durante a Guerra do Ultramar são vestidas em tonalidades de verde camuflado. Numa alusão às vestes dos militares. São sobretudo mulheres e crianças. “No fundo foram elas as verdadeiras vítimas da guerra”, desmonta a artista plástica, filha de um ex-combatente do Ultramar. A ideia de explorar a temática surgiu pelo contacto de um espólio de fotografias de antigos combatentes da freguesia que chegou a ser reunido em exposição. Os tecidos usados nas telas são oferecidos ou comprados pela artista plástica a quem agrada a ideia de reutilizar materiais na confecção de arte. Desde uma simples camisa até a uma velha cortina estampada. “Há pessoas que vêm ter comigo e me dizem que gostaram de determinado trabalho porque aquele padrão de tecido lhes traz boas memórias”, explica Carla Tavares.A artista tem noção das dificuldades que se enfrenta no mundo da arte – a sua paixão de infância - e também por isso trabalha como professora no âmbito das Actividades de Enriquecimento Curricular no concelho. Mas faz um balanço positivo dos primeiros dois anos de trabalho e das seis exposições. É admiradora de Júlio Pomar e Matisse, mas segue um caminho muito próprio. Na forja a artista plástica, licenciada na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, tem já novos projectos, mas prefere não descortinar para já os temas a explorar. A filosofia mantém-se: explorar os extremos e trazer as contradições para o campo da arte.
Contradições estampadas em telas de tecidos coloridos

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