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Abnegado Serafim das Neves

Deus nos proteja que vem aí uma chuva de museus. Esta informação não tem a ver com meteorologia mas podia integrar um boletim meteorológico relativo a fundos comunitários. Depois das inundações de rotundas o anticiclone dos Açores vai trazer dinheiro fresco europeu para a museologia. E já está toda a gente de chapéu na mão para apanhar uns aéreos. Ouvi um feirante chamar assim aos euros e adoptei a designação. O dinheiro voa, explicou-me ele. E se voa é aéreo. O povo sabe muito, acredita.A Câmara de Alcanena manda-se logo a dois museus. O da pele e dos curtumes e o das aguarelas Roque Gameiro. Faz muito bem aquela autarquia. E só peca por defeito. A pedir que seja de cogulo, como diziam os antigos. A de Abrantes tem horizontes mais largos. Quer um Museu Ibérico de Arqueologia e Arte. Um A&A, por assim dizer. O Saramago, ibérico como é, deve ser o padrinho. Mas há mais projectos por aí a rebentar. E outros que contam apanhar o comboio em andamento. O comboio dos museus, pois claro. A todo o vapor, como calculas. Enquanto as massarocas não chegam anda tudo museologicamente animado. Vila Franca de Xira inaugura o Museu do Neo-Realismo. No Entroncamento andam a batucar no Museu Ferroviário. Em Santarém o Presidente já tinha anunciado a Fundação das Pedra e convém não esquecer o Museu da Cavalaria. Pelas minhas contas Portugal vai ser o País da União Europeia com mais Museus por metro quadrado. Aqui na nossa região já há um Museu por cada dois habitantes. O objectivo é atingir o recorde das rotundas e das extensões de saúde. Há duas por cada cidadão num cálculo feito a olhómetro. A União Europeia veio dar um outro sabor à proverbial dependência nacional. Antes não tínhamos um tostão. Agora temos patacão com fartura mas não o podemos gastar onde queremos. Temos que o gastar onde nos mandam. Alguém se lembraria de requalificar o fontanário da aldeia quando a aldeia nem fontanário tem e o que faz falta é um centro de dia para os velhotes? Claro que não, mas agora com os fundos comunitários é assim. Os velhotes continuam a passar os dias no banco das pichas murchas porque não veio dinheiro para o centro de dia, mas pelo menos já podem passar tardes a falar do fontanário novo. E quem diz fontanário diz Museu.Um dia destes vi uma reportagem O MIRANTE TV sobre um marmelo que colecciona calendários de mulheres nuas. Espero que se candidate a fundos do para um museu. De certeza que a candidatura vai ser aprovada por aclamação. O Presidente da Câmara da Chamusca já deve estar arrependido de ter andado a leiloar os trastes velhos do município. Aquilo tudo junto dava o Museu Nacional da Tralha. Não há ninguém que não tenha uma ideia para um museu. Bruxelas vai soçobrar com tanta candidatura. O Museu dos papelinhos das pastilhas elásticas, o Museu do preservativo usado, o Museu da peúga encardida, o Museu do caroço de azeitona, o Museu da gravata de casamento… os tecnocratas de Bruxelas nem sabem onde se estão a meter, coitados. Eles já deviam saber que quando toca a captar fundos comunitários nós vamos a todos. Nem que sejam fundos para a construção de iglus para esquimós. Venham eles que os esquimós logo se arranjam. E mais nada!!!Um bacalhau museológico do Manuel Serra d’Aire

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