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Um informático que fiscaliza zonas de caça

Toca viola baixo numa banda e não são raras as vezes que faz directas para ir trabalhar

António Marques tem uma função que não se identifica com o curso de tecnologias de informação e comunicação que está a acabar. Há quatro anos que o jovem de Constância avesso às armas é gestor das zonas de caça do concelho.

O que faz um finalista de tecnologias de informação acordar todos os domingos às 04h30 ou cinco da manhã para percorrer as duas zonas de caça existentes no concelho de Constância? “Contingências da vida”, responde bem-humorado António Marques. Quando concorreu a uma bolsa de emprego da autarquia o jovem de 29 anos estaria longe de imaginar o que o esperava, ainda mais quando o contrato era para “auxiliar administrativo”.Encarou a proposta da autarquia para passar a gerir as zonas de caça do concelho como “um enorme desafio”. “Sempre fui contra a caça e ainda sou um bocadinho, embora já entenda a sua génese”, diz António Marques, adiantando nunca ter caçado. “E de armas também pouco percebo. Tenho uma espingarda velhinha, do meu avô, mas nunca dei um tiro na vida”.A maior dificuldade em ser gestor de zonas de caça é mesmo a relação com os caçadores. “São pessoas difíceis, todos têm reclamações, todos querem ver satisfeitas as suas reivindicações. Cada caçador sua sentença”, diz, adiantando que, ao fim de quatro anos já lida bem com a situação. “Aprendi a entendê-los”.Durante a conversa com O MIRANTE o telefone toca mais do que uma vez. “São eles”, diz António Marques. Já está habituado a que lhe liguem a qualquer hora, para resolver uma questão, tirar uma dúvida ou simplesmente sugerir algo. “Às vezes são dez ou onze da noite e ligam-me. Lembram-se de qualquer coisa”. Outras vezes é apenas para fazerem queixas de outros colegas. “Começam a ver esquemas onde nada existe”. António tenta amenizar as coisas e responder a todas as dúvidas.“Ao princípio detestava o serviço, depois aprendi a gostar” confessa António. Diz que teve uma boa ajuda do engenheiro que tinha antes aquele serviço. E o resto aprendeu por ele próprio, com recurso à Internet. “Está sempre a sair nova legislação sobre a caça e tenho de estar bem informado”. E depois há os manuais de gestores de caça. “Tenho-os todos”.António Marques prefere ir falando informalmente todas as semanas com os cerca de 70 caçadores do concelho do que fazer reuniões formais. “No máximo, convoco quatro ou cinco por ano”. É aos domingos, dia “oficial” de caça, que o gestor mais trabalha. Levanta-se ainda de noite - porque a caçada começa quando o sol nasce – e percorre as duas zonas de caça existentes no concelho, fiscalizando o cumprimento da legislação. E a jornada acaba quase sempre em convívio. “Às vezes vão caçar e não caçam nada. Mas isso não impede que às nove da manhã não se esteja numa petiscada bem disposta”, refere o gestor, adiantando que a caça funciona cada vez mais como um escape social.O escape do gestor é, ao contrário, a música. Toca viola baixo numa banda e não são raras as vezes que faz directas para ir trabalhar ao domingo. “Quem corre por gosto não cansa” diz o finalista do curso de tecnologias de informação e comunicação que ainda dá uma “perninha” na gestão do Parque ambiental de Santa Margarida, sem horários nem dias certos. “O melhor de tudo é que sou eu a fazer a gestão do meu tempo”.Apesar de já saber manusear uma arma de caça e conhecer de cor as épocas certas para disparar contra os pombos, as rolas, as perdizes, os coelhos e os javalis António Marques não quer fazer disso o seu futuro profissional. “O meu projecto de vida está delineado desde que entrei para o curso. E vai estar de certeza ligado à informátia e ao web design”, afiança. A gestão de zonas de caça ficará no seu currículo porque, como diz, é bom saber um pouco de tudo. E se nunca tivesse aceite a função, continuaria hoje a não entender porque é que se caça.

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