Epístola de Serafim das Neves ao excelso Manuel Serra d’Aire
Meu caro, vivemos dias angustiantes causados pela concorrência atroz e despudorada de que estamos a ser vítimas. Até há pouco tempo vivíamos no remanso desta secção, vogando ao sabor dos ventos e marés, desancando em políticos, autarcas e afins sem grandes preocupações. Infelizmente para nós as coisas mudaram abruptamente e corremos mesmo o risco de perder o subsídio para o coirato e para as minis que caridosamente nos pagam para escrever parvoíces.Já deves ter notado, com a argúcia que te distingue, que nos últimos tempos vimos o nosso espaço ser disputado por autarcas e políticos. Tudo começou com o escritor e presidente da Câmara de Santarém Moita Flores, que em vez de se preocupar em mandar tapar buracos, construir rotundas e limpar passeios começou a escrever cartas. A primeira contemplada pela cáustica prosa do escritor foi a secretária de Estado Idália Moniz, por questões de protocolo numa cerimónia oficial ocorrida no concelho.Pensava eu que matado o vício Moita Flores ficava por ali. Mas não. Assim que pôde voltou à carga. A vítima agora foi o candidato à liderança da distrital de Santarém do PSD, João Moura (não, não é o cavaleiro tauromáquico…). Perguntas tu e muita gente que tem Moita Flores a ver com as eleições num partido de que não é militante nem nunca foi. Aparentemente devia deixar correr as águas. Mas o homem pela-se por uma boa peleja. Sobretudo quando lhe dá ocasião para afiar a caneta e distribuir fruta em forma de carta com uma acutilância digna de um ponta de lança.Desta vez João Moura até teve direito a uma carta aberta (sempre se poupa no selo) que, de tão aberta, antes de chegar ao destinatário já meio mundo lhe tinha posto os olhos em cima - são procedimentos a rever e em que os Correios podem dar uma ajudinha, sempre que não estejam a vender discos, filmes ou livros com receitas culinárias. Para cúmulo, a veia literária de Moita Flores desencadeou uma fúria epistolar que começou com a resposta de João Moura, prosseguiu com a carta de David Catarino até atingir este pudibundo escriba. O que eu temo, perspicaz Manel, é que, se esta epidemia continuar, quem nos paga para escrever estas linhas nos ponha a mexer como quer fazer o PCP com a deputada Luísa Mesquita.Porque a minha modéstia obriga-me servilmente a reconhecer que a adjectivação e a riqueza de vocabulário usada por Moita Flores para desancar os destinatários das cartas que vai arranjando é muito mais abrasiva que a minha. E mesmo a resposta de João Moura prova que os níveis de iliteracia entre a classe política não estão tão baixos como se supunha. A única coisa que posso dizer em defesa deste posto é que ao pé deles sou um santo. Se eu algum dia pusesse no papel o que esses dois escreveram um ao outro tinha muitos mais processos em tribunal por difamação do que aquele que o Excelentíssimo Senhor Engenheiro Rui Barreiro (respeitinho é muito lindo) fez o favor de me colocar. P. S. – Deves estar a interrogar-te o que tem esta foto a ver com o texto. Nada. É apenas uma estratégia para atrair audiências. Ando a aprender com as televisões.Aceita um abraço quebra-ossos do Serafim das Neves
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