Pintá-los de preto
Nos tempos da “outra senhora”, leia-se durante a ditadura de Salazar e Marcelo Caetano (não tenho saudades nenhumas daqueles tempos), o presidente da República de então, o Almirante Américo Tomás, era conhecido pelo “corta fitas”, pois passava grande parte dos seus dias em inaugurações. Nos tempos actuais, a fobia de cortar fitas generalizou-se a ministros, secretários de Estado, governadores civis, presidentes de câmara, etc., etc. (por vezes a mesma obra é inaugurada mais de uma vez). Com o 25 de Abril as condições de vida dos cidadãos foram consideravelmente melhoradas, com mais anos de escolaridade obrigatória, aumentos das pensões de reforma e dos salários, mais apoios em situações de doença com a criação de novos hospitais e centros de saúde, etc.. Infelizmente, na fase actual, a situação modificou-se, ou seja: os nossos representantes na administração pública continuam a cortar fitas nos grandes centros urbanos do litoral português, ao mesmo tempo que encerram escolas, maternidades, centros de saúde e outros estabelecimentos de utilidade pública no interior do país, deixando as populações rurais cada vez mais desprotegidas. Ao mesmo tempo, o desemprego aumenta todos os anos, as pensões dos reformados ficam sujeitas mais impostos, o aumento de salários não acompanha a inflação, o custo de vida agrava-se, e cerca de dois milhões de portugueses sofrem com o estado de pobreza generalizado. Em contrapartida, os grandes grupos económicos continuam a ver os seus lucros aumentar irracionalmente em cada ano que passa.Com toda esta situação, que não é motivo de regozijo para “cortar fitas” os votantes nos partidos que tem governado durante os últimos 30 anos, talvez possam responder com sinais de luto nas próximas eleições, pintando de preto os boletins de voto ou inscrevendo uma grande cruz nos mesmos.António José Rodrigues
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