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Ser ou não ser comunista

Tenho um amigo, empresário de Almeirim, chamado Joaquim Borrego, que me trata familiarmente por comunista. E sempre que pergunta por mim a quem comigo trabalha usa o mesmo apelido.No princípio, já lá vão uns bons anos que nos conhecemos, não achava muita graça ao trato. Pouco a pouco fui-me habituando a ouvir-me comunista nas suas saudações pessoais e a perceber o efeito do recado afectuoso, “dá lá cumprimentos ao comunista”, que de vez em quando me é transmitido religiosamente.Confesso que não tenho qualidades humanas para me considerar comunista mas, tal como quando tinha 20 anos, conservo intacta a minha coragem, os meus sonhos e os meus ideais de esquerda, seja lá isso o que for nos tempos que correm.É claro para mim que ser de esquerda não é exactamente estar ao lado do PCP, do BE ou do PS. Mas não sou indiferente, porque tenho memória, à queda do partido comunista e à ascensão dos bloquistas, já que reconheço muito mais competência ao contra poder dos comunistas do que dos dirigentes do BE. Sobre o PS sempre achei, e o tempo tem vindo a dar-me razão, que os socialistas são muito mais frágeis ao ataque do poder capitalista que outro qualquer partido à sua direita.Não tenho, longe disso, uma vida de combate ao lado dos pobres e desprotegidos. Não milito nem nunca militei num partido e jamais participei em manifestações. Mas nunca me deixei corromper pelos oportunistas. Não odeio os meus supostos inimigos. Nunca senti nem sei o que é isso do sentimento de inveja. Nunca sorri da desgraça dos outros. Trabalho desde os dez anos e por mais que a vida me sorria, ou seja grata, nunca esquecerei as humilhações que sofri noutros tempos e que sei que estão sempre guardadas para os pobres que não têm onde cair mortos. Por isso não me ofende o epíteto de comunista do meu amigo Borrego. Se ser comunista é ser fiel a princípios, a ideias e ideais, então eu sou comunista.As notícias muito actuais sobre a vida política da deputada e vereadora da Câmara de Santarém, Luísa Mesquita, fizeram-me lembrar o meu amigo Borrego e a forma de me saudar familiarmente. Não sendo comunista, e supondo que Luísa Mesquita o é verdadeiramente, acho desonesta a sua atitude de confronto com o partido da qual é militante e no qual se apoiou para desempenhar importantes cargos e adquirir grande visibilidade pública. Os partidos precisam de militantes que não se agarrem ao Poder com unhas e dentes. A militância pode levar à dissidência mas não pode servir para desonrar a família política que se escolheu, principalmente quando o que está em causa é o apego desmedido ao Poder.

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