Grupos de teatro trabalham por amor ao palco
Artistas que dedicam a vida à arte de representar que abdicam das saídas à noite e do convívio com a família.
A forma entusiasmada como Artur Neves, 28 anos, dá as derradeiras indicações aos seus actores no último ensaio antes da representação da peça “O Príncipe Nabo”, no Festival de Teatro de Calhandriz que terminou domingo, 25, demonstra bem a sua paixão pela representação. Desde criança que o jovem encenador do grupo dramático povoense, de Póvoa de Santa Iria, natural de Zambujeira do Mar, Alentejo, revelou uma grande paixão pela representação. Ainda frequentava a escola primária e já participava nos teatros de escola. Durante os anos que viveu em Macau frequentou o Conservatório e quando voltou a Portugal integrou o Chapitô, em Lisboa. Há dois anos foi viver para a Póvoa de Santa Iria e constatou a falta de actividade cultural na cidade. “O Grémio sempre teve um grupo de tea-tro mas esteve 16 anos inactivo. Em Março decidimos abrir inscrições para actores e a adesão tem sido mesmo muito boa o que prova que o grande problema do concelho é a falta de iniciativa das pessoas responsáveis pela cultura”, afirma. A funcionar há cerca de oito meses o grupo dramático povoense conta actualmente com 32 elementos. Como são um grupo recente ainda não têm subsídios e mesmo sabendo que o teatro dá-lhes mais despesa do que rendimento não se importam com isso. “A paixão pelo teatro e pela representação supera todas as adversidades. Além disso, não podemos pensar o teatro como forma de dar lucro porque senão não funciona. O teatro deve ser feito para divertir e cativar o espectador”, refere. Artur Neves garante que não troca nada pelo teatro e sente-se bastante realizado com este novo projecto ao qual ajudou a dar vida. “Cada encontro do grupo para os ensaios é uma troca de experiências fantásticas. Aprendemos todos os dias um pouco mais”, salienta.João Santos Lopes, encenador e actor do grupo de teatro amador “Esteiros”, de Alhandra, partilha da mesma opinião. Diz muitas vezes que sem o teatro não conseguiria viver. Assume-se como um solitário que dá tudo pelo seu grupo. Quando não está a trabalhar anda a pesquisar textos para adaptar ao teatro ou à procura de imaginação para escrever as suas próprias peças. “Tenho que procurar peças que se adaptem aos actores que tenho e às suas características o que não é fácil”.Segundo o encenador o teatro, mesmo o teatro amador, obriga a muita disponibilidade e nem todas as pessoas estão disponíveis a abdicar de umas saídas com os amigos ou perderem algumas horas de sono. “Não podem vir para o teatro apenas porque está na moda. É necessário sentir paixão que nos faça entregar por completo. É duro mas também muito compensador quando estamos em cima do palco”, explica.Quando questionado sobre a falta de interesse das pessoas pelo teatro João Lopes não concorda. Tem noção que uma ida ao teatro, ao contrário do que acontece com o cinema, tem que ser previamente planeada mas não acredita que isso seja razão para a falta de público. “Existe é uma falta de oferta muito grande e também não há divulgação suficiente dos espectáculos. Se as pessoas não são informadas das actividades culturais do concelho é óbvio que não aparecem”, salienta.O grupo de teatro Esteiros iniciou a sua actividade antes da Revolução do 25 de Abril mas era um grupo muito embrionário. Só depois da Revolução dos Cravos é que começaram a trabalhar a sério tendo nascido da “vontade de um grupo de jovens alhandrenses motivados por questões político-sociais para quem via o teatro como um veículo transmissor de mensagens de contestação”, explica o encenador.Alexandre Lyra Leite sempre achou que gostava mais de cinema do que teatro. Nesse sentido tirou o curso de cinema no Conservatório, em Lisboa. Foi quando tirou o curso de gestão e produção teatral que se apaixonou pelo teatro. Aos 20 anos decidiu em conjunto com alguns amigos criar o grupo de teatro Inestética. “Havia uma necessidade de fazer coisas novas, comunicar e quebrar uma certa apatia que estava instalada no concelho. A cultura em Vila Franca de Xira parecia estar cristalizada”, recorda. Passados 16 anos a actividade cultural não evoluiu muito e, na opinião do encenador da Inestética, continua a ser insuficiente sendo necessário apostar em maior oferta que traga as pessoas ao teatro. “Devido à falta de espectáculos as pessoas perderam os seus hábitos culturais”, lamenta. Além de tudo isto os grupos de teatro ainda têm que lutar com adversários de peso como a televisão e a internet que dão tudo aos espectadores sem terem que sair do sofá.Ao longo de 16 anos a Inestética já produziu mais de 30 espectáculos. “The Scam Show” – projecto onde trabalhou com o grupo musical português “The Gift” – “Gato preto e outros fantasmas”, a trilogia “O Homem Absurdo”, “O Homem Vazio”, “O Terceiro Homem”, Did you miss me” são algumas das muitas peças que o grupo já levou à cena.
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