Confesso que fiquei perplexo com o desencanto que emana do teu último e-mail quanto aos putos de hoje e aos adultos que aí vêm. Não é caso para tanto, meu caro. Por muito que os cachopos de hoje sejam violentos e mal-educados nunca hão-de chegar às barbas de muitos dos que hoje governam (ou se governam) neste país. Tudo na vida é relativo. Até a maldade e as suas consequências. E eu prefiro um puto que me tente arrancar as orelhas à dentada do que alguns senhores de fato escuro que só pensam em nos sugar os parcos cêntimos até ao tutano.Feito o intróito (esta palavra é espectacular!), vamos ao que interessa. E o que interessa, pelo menos para os lados de Constância e Abrantes, é a nova barragem no Tejo. Se outros méritos não tivesse esse projecto - que se tudo correr bem há-de ser concretizado quando os meus netos forem à inspecção ou quando o IC 3 estiver pronto (a ordem é aleatória) -, louve-se pelo menos o facto de o mesmo demonstrar que o Tejo já é efectivamente navegável, para gáudio do dr. Jorge Lacão.O Governo, sem gastar um tusto, conseguiu a façanha de pôr a subir o Tejo não uma canoa, um submarino ou um porta-aviões, mas uma barragem. Em poucas semanas, a estrutura evoluiu da zona do Almourol e já vai quase a chegar ao Tramagal. Quando me responderes a este e-mail é provável que já esteja em Abrantes. E lá para o fim do ano, se Deus quiser, há-de ser avistada algures em Espanha. Fabuloso. José Saramago mostrou imaginação a rodos quando pôs, em a Jangada de Pedra, a Península Ibérica à deriva no oceano. Mal sabia o autor ribatejano que, no rio à beira do qual nasceu, havia de vogar uma barragem graças à inspiração de outros criativos artistas.Continuando a falar de coisas importantes. Manel chegou finalmente a nossa grande oportunidade. O Movimento Mérito e Sociedade anda à procura de responsáveis regionais para ganhar lastro e transformar-se em partido. Se não acreditas vai ver à Internet. Não me perguntes o que é que podemos fazer pelo partido, porque não te sei responder - além de assar febras e abrir cervejas não estou a ver, assim de repente, onde possa ser verdadeiramente útil. Mas sei o que é que o partido pode vir a fazer por nós. Se as coisas correrem bem, daqui a uns anos podemos ser eleitos de uma assembleia municipal ou mesmo assessores, ajudantes, colaboradores ou coisa que o valha de um pequeno grupo parlamentar. Olha que exemplos cá por estas bandas não faltam. Pensa nisso. Afinal de contas entre os que lá estão e estes dois maganos não há grandes diferenças.Já o mesmo não se pode dizer do chefe de gabinete do presidente da Câmara do Cartaxo, que foi recentemente indigitado para secretário da associação de municípios portugueses do vinho - a mais cobiçada do país, pelo menos pela parte que me toca. O socialista José Arruda, senhor de vasto e eclético currículo, será com certeza um digno representante dos nossos néctares (embora as más línguas do costume digam que só há pouco aprendeu a distinguir um tinto de um branco) e merece que a partir de agora, e com toda a propriedade, o passem a tratar por Arruda dos Vinhos. Só por permitir essa chalaça, a nomeação merece o meu aplauso. É pois com júbilo que me despeço brindando à nossa saúde e à do Arruda dos Vinhos.Serafim das Neves