Rodoviária do Tejo quer captar novos clientes e ser alternativa ao transporte próprio
Administrador Orlando Ferreira explica as mudanças e o caminho que falta percorrer
A frota da Rodoviária do Tejo foi quase toda renovada. Os novos motoristas têm uma outra postura e no decurso da sua formação é-lhes explicado que as reclamações dos clientes devem ser encaradas como uma oportunidade para melhorar o serviço. A empresa está apostada em conhecer melhor os seus clientes habituais e, principalmente, os potenciais clientes. E prepara-se para o que aí vem. Acabam as concessões e os serviços considerados essenciais para as populações passam a ser postos a concurso.
É a falta de transportes que obriga as pessoas a utilizar transportes públicos ou a falta de oferta de transportes públicos deve-se ao facto de cada vez mais pessoas utilizarem transporte particular? Discutir isso pode ser como discutir se quem apareceu primeiro foi o ovo ou a galinha. O que posso dizer é que, até há algum tempo, os nossos passageiros eram passageiros cativos. E o sistema funcionava do seguinte modo: quem não tinha carro andava de autocarro mas assim que tinha possibilidade de comprar carro já não precisava de andar de autocarro. A pouco e pouco foram perdendo passageiros. Efectivamente não é solução para a sustentabilidade deste negócio contarmos apenas com os jovens que ainda não têm carro e com algumas pessoas de mais idade. A filosofia da Rodoviária do Tejo mudou. Queremos ser uma opção. Uma alternativa ao transporte próprio. Para isso temos que ter mais carros. E uma maior capacidade de investimento. Porque é que os transportes públicos só funcionam bem nas grandes cidades? É uma questão de dimensão e rentabilidade? A Rodoviária do Tejo é uma empresa totalmente privada desde 1993. E ainda continuamos a receber cartas dirigidas à Rodoviária Nacional. Ainda é assumido que somos obrigados a dar resposta com todo o tipo de frota tal e qual como a Carris e os STCP (Transportes colectivos do Porto). Se calhar o problema é nosso mas ainda não conseguimos que as pessoas percebam que não recebemos apoio de ninguém. Nem um tostão. Toda a nossa capacidade de investimento depende do passageiro.Porque é que a Carris consegue prestar um serviço de qualidade?A Carris é tutelada pelo Estado. Recebe centenas de milhares de contos por ano. O que os operadores privados têm vindo a debater é a injustiça que há neste tratamento porque o passageiro de Lisboa não é mais que o passageiro de Santarém ou de Leiria. Há uma desigualdade no tratamento dos cidadãos. Porque é que o passageiro de Lisboa há-de ter um operador com dinheiro público para qualquer investimento e os passageiros do resto do país têm que ser servidos por operadores privados que não recebem um tostão de subsídios? A injustiça assenta apenas no não recebimento de dinheiro público? O sistema das concessões é um sistema injusto. Eu posso estar a prestar um mau serviço no transporte entre Santarém e o Cartaxo, por exemplo, mas como a concessão é minha ninguém pode vir substituir-me. Isto pode ter contribuído para este estado de coisas.Porque é que a situação se tem mantido?O Estado aceita porque não quer gastar dinheiro. Os transportes em Portugal ainda não passaram à fase adulta. As concessões são uma troca. Como não nos paga nada fecha os olhos ao mau serviço que alguns operadores prestam. O regulamento que rege os transportes é de 1945. De então para cá mudou tudo. Basta ver o crescimento das cidades. Há um vazio legislativo porque o Estado não tem dinheiro para pagar o que os operadores de transportes estão a fazer à sua custa. Há imensos percursos que não são rentáveis. As empresas espanholas chegaram a Trás-os-Montes, pegaram nas concessões e foram entregá-las ao Estado. Aquilo não é rentável. Não lhes pagam, não se faz. E essa lei é cumprida? Como? Uma lei de 1945 presta-se a ser olhada de lado. Neste momento podemos ser multados todos os dias porque o Regulamento de Transporte Automóvel obriga o cobrador a usar boné. Ora, já não há cobrador sequer, nem boné…A Rodoviária do Tejo não foi entregar a concessão ao Estado. Vamos equilibrando as coisas com os vários serviços que prestamos. Mas este é um negócio de tostões. Participamos na Rede Expresso que é paga ao quilómetro. A nossa obrigação é ter um autocarro limpo e no local a horas e um motorista competente e educado. Temos os transportes escolares e as interurbanas…Quando é que esta situação vai mudar? Para o ano acaba o sistema de concessões. Acaba legalmente por imposição da União Europeia, mas está a ser negociado um período de transição que pode ir de cinco a sete anos. A partir do ano que vem todas as concessões vão morrer e vão ser rebaptizadas. Não sei quem as irá rebaptizar, se o senhor prior ou o legislador, mas o conceito de concessão acaba e passa a conceito de contrato.Na prática o que significa isso? A tal concessão que eu tenho, entre Santarém e o Cartaxo vai passar a chamar-se contrato. E no período de transição esse contrato é feito com a Rodoviária do Tejo. Após esse período vai a concurso. O cutelo que todas as empresas de transportes têm apontado à cabeça chama-se contratualização. É uma ameaça ou uma oportunidade?Eu acho que ameaças destas são oportunidades em fato-de-macaco. Nós não temos medo dos concursos. Não temos medo de desafios e estamos a preparar-nos para os novos tempos. Mas temos consciência que estão a chegar a Portugal e já aqui operam, empresas estrangeiras que estão habituadas a este sistema de contratos. O contrato vai implicar o quê?Vai implicar que alguma autoridade venha dizer o que quer e que ponha o serviço a concurso. Dizem que querem um serviço com determinadas características, para um determinado percurso e com determinadas viaturas e quem apresentar os melhores preços fica com o serviço. E o autocarro, a manutenção e os motoristas serão do operador que ganhar o concurso.Quem é essa entidade?Aí é que reside o problema. Em lado nenhum é o Estado a fazer isto. São autoridades regionais. E em Portugal não existem autoridades regionais.
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