A gestora que deixou Lisboa para ser explicadora de matemática
Centro de estudos em Tomar junta crianças desde o ATL ao secundário
Sofia Anjos fartou-se do ritmo de vida intenso da capital e regressou a Tomar par montar o seu próprio negócio.
Um papel pintado com lápis de cores, colado na porta da pequena divisão, anuncia o “Cantinho da Sofia”. Foi uma surpresa dos pequenos alunos de Sofia Anjos, a proprietária do Centro de Estudos da Rua dos Moinhos, em Tomar, onde se dão explicações de várias disciplinas, faz-se estudo acompanhado e se proporcionam actividades de tempos livres (ATL’s) para os mais pequenos.“Nota-se, sobretudo no estudo acompanhado, que os miúdos não sabem estudar. É isso que lhes tentamos ensinar”, explica a jovem empresária, de 25 anos, que estudou para ser gestora de empresas. O curso, tirado no Instituto Politécnico de Tomar, levou-a dois anos para Lisboa, para integrar uma empresa, mas a vida na grande cidade não lhe agradou. “Não gostei praticamente de nada. Saímos de manhã de casa e só voltamos à noite. E também não me identifiquei com o trabalho”.Antes integrou o estágio de um mês, em Agosto, na Câmara de Tomar. “Sinceramente não aprendi muito. Aquilo que nos queixamos como utentes lá dentro é muito pior”. E dá um exemplo: “Entregavam-nos um documento para pôr o selo branco. Eu ia, carimbava e voltava. Mas quando chegava, perguntavam-me – já está? – não era suposto sermos tão rápidos”. Sorri, enquanto confessa a desilusão. Até porque um dos sonhos, enquanto tirava o curso, era estagiar na câmara ou no hospital. E tinha certeza que não queria entrar na vida bancária – “Não me pergunte porquê, porque não sei explicar”.A aventura pelo mundo do ensino surge pela vontade de regressar a Tomar e depois da gestão ter ficado suspensa. “Nenhum chefe nos dá o valor que temos”, sentencia. Por isso, decidiu ser chefe de si mesma e dedicar-se às explicações. A experiência já tinha resultado e desta vez transformou-a num negócio próprio. Todos os dias chega à pequena casa de dois andares, restaurada, situada em pleno centro histórico de Tomar, por volta das 08h30, altura em que se dedica a preparar as aulas que irá dar durante o dia. A sua área é a matemática, a disciplina que assusta muitos alunos, mas com que tem obtido vários sucessos. “A única técnica que uso é ser amiga deles. Exijo quando o tenho que fazer e brinco quando há tempo para isso”, explica. E normalmente consegue ter resultados positivos. Não é raro que um aluno chegue com negativa a matemática ao centro de estudos e saia com bons resultados. No final dos exames do último ano lectivo, alguns explicandos telefonaram-lhe a dar a boa nova: “Eu crio uma boa relação com eles, muito saudável. Nas escolas há sempre uma barreira entre o professor e o aluno. Não os motivam. Aqui aprendem a ter autoconfiança”. Além disso, os miúdos têm falta de bases. “A única miúda que aqui tenho que sabe a tabuada é uma menina chinesa do segundo ano e porque anda no João de Deus. Mesmo aqueles que andam no 10º ou 11º não sabem. E porquê? Há muita dificuldade nas passagens de nível e nas mudanças de escola”. A profissão não é a única coisa que ocupa o tempo de Sofia. A bijuteria é um dos hobbies que lhe abrange alguma parte do tempo. “Vou fazendo e guardo-os numa caixa. Depois, ofereço as peças que faço”, revela.A vontade de continuar é grande. Por enquanto, Sofia tenta desenvolver mais o seu centro de estudos e preencher o tempo das suas crianças. Dá-lhes o lanche, algumas levam o almoço, leva-os à escola, ensina-os, puxa-lhes pela criatividade, mas a maioria tem “pouca vontade de trabalhar”. É o que mais faz falta. Mas a dificuldade vai sendo ultrapassada. Além da matemática, o centro de estudos proporciona ensino em todas as outras disciplinas, como o inglês, informática ou físico-química. Para isso, Sofia conta com a ajuda de outros professores. Redescobriu a vocação de ensinar que já sabia ter. A porta do “cantinho da Sofia” está sempre aberta e assim vai continuar “até que isto dê”.
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