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Um homem discreto com espírito de Marquês de Pombal

Um homem discreto com espírito de Marquês de Pombal

José Vieira - Prémio carreira empresarial
As pilhas de papéis em cima das duas secretárias indicam que o homem que ocupa aquele escritório não se limita a dar ordens. “Desculpem a desarrumação mas estamos prestes a fechar vários contratos”, desculpa-se José Vieira, quando nos recebe na Soladrilho, a “menina dos seus olhos”, que em 2005 ganhou o prémio inovação na Tectrónica, a feira nacional da especialidade. Um orgulho para o empresário que privilegia a pesquisa laboratorial. “Hoje na indústria não há segredos, há investigação”, diz quem está a trabalhar em laboratório num novo tipo de produto cerâmico, único no mundo.A indústria de cerâmica está-lhe no sangue. Lembra-se de, ainda muito novo, atravessar a Golegã de charrete a caminho da fábrica de cerâmica que o pai possuía em Mato de Miranda. Não admira, por isso que com apenas 21 anos se tenha tornado gerente da cerâmica da Cascalheira, no Entroncamento, onde se manteve até 1978. Foi nesse ano que iniciou um projecto de investigação que mais tarde iria dar lugar à Soladrilho, empresa sedeada no Entroncamento que hoje se estende por quatro fábricas. Nasceu em Assentis, Torres Novas, há 65 anos mas aos quatro foi residir para o Entroncamento. Ainda hoje, quando vai à aldeia natal, relembra com saudade a casa onde nasceu, agora transformada em centro recreativo e cultural. Gosta de passar despercebido, é adepto do low-profile mas irrita-se facilmente com a falta de honestidade e a não assunção de compromissos.Andou cinco anos no seminário mas confessa não ter qualquer vocação para padre. A prova é que, após quatro anos de retiro espiritual foi expulso, depois de ter sido apanhado com uma revista mundana, a Flama, nas mãos. Foi a oportunidade por que esperava, porque o seu sonho era a vida empresarial. E foi por ele que optou também por não seguir a vida militar, depois de se ter inscrito como voluntário para a Força Aérea. Teve uma breve incursão no mercado da construção civil, “sem grande expressão” e virou-se para a hotelaria no final de década de 90 do século passado, reconstruindo a Quinta das Vendas para a realização de eventos. É ali que hoje habita e é também ali que possui uma colecção invejável de automóveis clássicos, a sua paixão. MG, Mercedes, Bentleys e um Rolls Royce, reconstruídos sobre sua supervisão. É consumidor de revistas de automóveis clássicos. Há uma pilha delas em cima de uma das secretárias, ao lado das fotos de dois netos e dos jornais do Sporting ainda embalados em plástico. “Não há tempo”. Adepto ferrenho do clube do leão, tem lugar cativo no estádio e contam-se pelos dedos das mãos as vezes que faltou a um jogo do leão. Mas não tem mau feitio futebolístico nem chama nomes ao árbitro quando o clube perde. Este ano, virou-se novamente para a hotelaria, reconstruindo uma antiga casa senhorial na Golegã e transformando-a num hotel de quatro estrelas. A casa não ostentava nenhuma placa de venda mas José Vieira veio a saber que os proprietários estavam dispostos a aliená-la e não pensou duas vezes. Escolheu a capital do Cavalo por considerar que está a ser feito um trabalho extraordinário na vila, ao nível da requalificação urbana. Costuma antecipar situações e tem uma boa visão de futuro. Por isso construiu um parque de estacionamento para 70 lugares quando o hotel tem apenas 24 quartos. “Ficou tudo preparado para mais tarde ser ampliado sem estragar a traça original e o conjunto arquitectónico”, salienta. Ri-se quando se fala que tem espírito de Marquês de Pombal. “Há muitas coisas nesta região que foram construídas a pensar apenas na necessidade presente” afiança quem tem por máxima a frase “os homens morrem mas as obras ficam”.Dorme cinco a seis horas por dia e apesar de ter um sono pesado nunca precisou de despertador para acordar. Admite que as constantes viagens de negócios pouco lhe têm deixado tempo para a família mas nos últimos tempos tem afrouxado um pouco o ritmo, dedicando mais algum tempo à mulher com quem casou aos 28 anos e de quem tem dois filhos, ambos engenheiros na Soladrilho. Não mistura a vida familiar com os negócios e sempre que vai de férias escolhe um destino onde seja difícil cruzar-se com algum cliente ou fornecedor. Confidencia que apesar da idade ainda tem um sonho muito pessoal para realizar - inscrever-se na universidade e tirar o curso de economia. Não porque precise, apenas porque gosta muito de números.
Um homem discreto com espírito de Marquês de Pombal

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