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A Expo-98 e o seu prolongamento a Vila Franca de Xira

A Câmara Municipal anunciou recentemente a intenção de encomendar um estudo "estratégico" para toda a frente ribeirinha com o propósito de replicar, ao longo dos 23 km que a integram, o modelo da Expo-98. Desde a porta de entrada do nosso concelho, a sul, que é a Qt. do Anabique, na Póvoa, que a actual equipa camarária atulhou com contentores e armazéns, à Vala do Carregado, a norte, onde a impotência, ou o desmazelo autárquico, permitiram o despejo clandestino de milhares de toneladas de aterros, muito para além da alucinação quixotesca, é o espectro da edificabilidade, em contínuo, da frente ribeirinha que se perspectiva. O que verdadeiramente pretende é abrir, de uma forma injustificada, uma vasta e nova área ao investimento fundiário, com a completa artificialização da nossa paisagem.A realidade biofísica da frente ribeirinha do concelho é substancialmente diferente da realidade preexistente na área de intervenção da Expo-98. Esta parcela da zona oriental de Lisboa era um espaço industrial e portuário degradado, uma área de armazenagem, dotada de outros usos desqualificados, incluindo uma lixeira, mas toda ela classificada como urbana. A frente ribeirinha vilafranquense é uma realidade muito mais complexa. Nesta área coexistem usos industriais modernos (o que é que a Câmara se propõe fazer com a Soda Póvoa, a OGMA e a Cimpor? Deslocalizá-las?), usos industriais obsoletos, áreas expectantes, áreas agrícolas (toda a frente ribeirinha do Forte da Casa é agricultada) e, ainda áreas ecologicamente relevantes (salinas de Alverca).A importância paisagística, a sensibilidade ambiental e os riscos de cheia na nossa frente de água exigem uma política territorial que parta de pressupostos distintos dos que presidiram àquela operação de renovação lisboeta e que não se subordine a uma mera lógica economicista. Desde Julho de 2002, em harmonia com as leis vigentes neste país, que a Câmara de Vila Franca deveria ter adequado o respectivo PDM ao plano regional, sendo certo que também desde Março de 2003 deveria estar já em execução um PDM revisto, atrasos a que se adiciona o dos 7 anos na aprovação da "carta de zonas inundáveis", instrumento criado na prevenção das tragédias como as cheias de Novembro de 1967.O rio Tejo e a lezíria que o circunda, a nascente, como a poente, são a alma do município vilafranquense. "A nossa vida é o rio" (J. Muniaín). Ao longo de séculos a nossa cultura, a nossa economia e a nossa história afirmaram-se no convívio com uma paisagem deltaica privilegiada que não herdámos das anteriores gerações vila-franquenses nas melhores condições, mas que devíamos saber valorizar como um legado para o futuro. Fernando Neves de Carvalho

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