Tribunal de Abrantes julga homicídio de empresário do Sardoal
A morte de Joaquim Meireles está relacionada com negócios de estupefacientes
O Ministério Público pediu a condenação por homicídio, em co-autoria, de dois homens suspeitos da morte de um empresário do Sardoal, em 2004. Na primeira e única sessão do julgamento, que decorre no Tribunal de Abrantes, um dos arguidos não quis prestar declarações, ao contrário do seu colega, que afirmou nada ter a ver com o homicídio. Joaquim Meireles, empresário de 49 anos, apareceu morto a tiro dentro do seu automóvel, encontrado submerso numa lagoa existente junto ao Tramagal (Abrantes), em Maio de 2004. Estava desaparecido havia três meses. Foi visto vivo pela última vez a 17 de Fevereiro de 2004, num bar da vila, a conversar com Eduardo e Estêvão, os dois suspeitos de homicídio. Na origem do crime, segundo a acusação, terá estado um negócio de transacção de droga. O empresário quereria adquirir 12 “sabonetes” de haxixe para transportar para a ilha açoriana de S. Miguel, onde trabalhava na montagem de tectos falsos.Ao colectivo de juízes Estêvão confirmou ter estado no bar com Joaquim Meireles, que lhe terá sido apresentado pelo amigo Eduardo, conhecido por fazer negócios relacionados com estupefacientes. “O Eduardo veio ter comigo e disse-me que ele (o empresário) queria comprar haxixe mas não tinha essa quantidade para vender. Eu disse-lhe que não tinha nada a ver com isso”.Segundo a versão do arguido, o amigo terá depois perguntado se ele não queria dar “uma banhada” (roubar) a Joaquim Meireles. “Disse-lhe que não, nunca tive problemas com a justiça”. A verdade é que Estêvão e Eduardo acabaram por sair do bar na companhia do empresário, tendo entrado os três no automóvel do falecido. Estêvão confirmou mais uma vez a acusação mas disse só ter apanhado boleia para casa. No caminho pararam num Multibanco, onde o arguido levantou 200 euros “para o Eduardo dar ao tio” por causa de um negócio de carros. Foi o único a sair do carro, deu o dinheiro ao amigo e seguiram até junto da farmácia do Tramagal, onde o deixaram.O problema, segundo a acusação, é que dois minutos após aquele levantamento automático, Joaquim Meireles também usou a mesma ATM para levantar 200 euros. “Como é que em dois minutos o senhor levanta dinheiro, entra no carro, entrega-o ao seu amigo, seguem até à farmácia, o senhor despede-se deles, eles voltam a arrancar, vão por um caminho diferente, voltam à máquina Multibanco e Joaquim Meireles levanta dinheiro?” perguntou um dos juízes do colectivo ao arguido, que respondeu já ter “experimentado” aquele percurso depois e conseguido fazê-lo em dois minutos. “Sabe que é difícil uma pessoa sozinha pôr um corpo na bagageira de um carro e empurrá-lo para um lago não sabe?” volta a pressionar o juiz, mas Estêvão mantém a versão inicial. O empresário e o seu amigo Eduardo deixaram-no junto à farmácia. “Eles seguiram e eu fui para casa. A partir daí não sei mais nada”.Quem afirmou também não saber porque estava ali foi o terceiro arguido no processo. José, tio de Eduardo, é acusado de ser cúmplice do sobrinho, depois de ter sido encontrada em sua casa a arma transformada e adaptada a disparar munições com projéctil de calibre 6,35 que matou Joaquim Meireles. “O meu sobrinho entregou-me uma arma para eu tentar vender. Não tenho nada a ver com este assunto”.Estêvão e Eduardo são acusados, em co-autoria material, dos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Eduardo é ainda acusado de detenção ilegal de arma proibida e o seu tio acusado de cumplicidade. A leitura da sentença está marcada para 28 de Fevereiro.
Mais Notícias
A carregar...