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“A política é uma das áreas mais irracionais”

Professor João Caraça fala sobre a utilidade de prever o futuro cientificamente
“O futuro é sempre uma metáfora do presente imaginário. Existem pessoas que gostam de imaginar um futuro sorridente, outras acreditam que o futuro será sempre catastrófico e outras ainda acham que o futuro não mexe. O que é um facto é que o futuro que essas pessoas projectam é o resultado da visão que cada um tem sobre o presente”.Foi desta forma que João Caraça, professor catedrático, dissertou sobre “Para que serve o futuro”, título do primeiro de sete seminários realizados no âmbito da Pós-Graduação em Prospectiva, Estratégia e Inovação que decorreu, quinta-feira, 21 de Fevereiro, no auditório II do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa.João Caraça defende a ideia de que o futuro inventa-se a si próprio e serve para diminuir a incerteza do conhecimento humano sobre o presente. “O futuro serve para nos dar mais segurança e reduzir a incerteza sobre aquilo que estamos a fazer no presente. Por isso, é que o futuro está em constante mudança”, explicou.O professor catedrático convidado do ISEG falou sobre a importância da prospectiva – conjunto de investigações relativas à evolução da humanidade – na sociedade para que seja possível prever o futuro de forma científica. “Desde sempre, o homem gostou de prever o futuro com o objectivo de controlar o presente. A prospectiva surge da necessidade de olhar para uma situação imaginária no futuro, que nos oriente e acrescente conhecimento, de modo a podermos ter maior segurança nas decisões que tomamos hoje”, afirmou.João Caraça demonstrou, perante cerca de quatro dezenas de participantes, a importância dos estudos e a forma como os investigadores viam o futuro que é, actualmente, o presente. O orador deu como exemplo de um bom trabalho de prospectiva uma experiência de grupo de estudiosos que criou o programa FAST – em português, Prospectiva de avaliação, ciência e tecnologia – e fez as suas próprias previsões.Em 1991, dizia-se que o desenvolvimento económico e social seria condicionado, nos próximos 15 anos, por quatro grandes mutações, nomeadamente, a intensificação das interacções ciência/tecnologia; o aumento da influência das tecnologias na sociedade; a progressiva substituição do trabalho humano por máquinas e a globalização da ciência, das finanças e da economia.“Apesar da Comissão Europeia, naquela altura, não gostar de ter grupos de estudiosos a estudarem e preverem o que poderia acontecer ou não no futuro, a verdade é que os responsáveis do programa FAST acertaram nas suas previsões, e o que, há 15 anos, eram ape-nas suposições, tornou-se realidade”, referiu.Para João Caraça, uma das áreas mais difíceis de prospectivar é a política uma vez que, na sua opinião, é uma das áreas mais irracionais. “Pode-se considerar a política como sendo o reino das paixões. Os políticos seguem as multidões ou grupos de interesses consoante o regime político em que vivam”, diz.O professor do ISEG alertou ainda a plateia para o facto dos media serem bons para a sociedade, uma vez que fazem aumentar a comunicação, embora sejam necessários alguns cuidados. E explicou porquê. “Os media são altamente permeáveis a poderes não democráticos ou financeiros. Uma vezes nacionais, outras vezes internacionais. É preciso ter cuidado. Não podemos acreditar em tudo o que dizem”, concluiu.

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