Tem apenas dez anos, mas é já considerada por muitos como um caso sério e promissor no mundo artístico. Susy Simão precisou apenas de dois ensaios para decorar o texto, da peça de teatro em que participou, incluindo a letra de uma canção. A jovem, natural de Vila Franca de Xira, mas a viver em À-dos-Loucos foi um dos quatro jovens actores que se estrearam em teatro com a peça infantil “O Circo Fantasia”, encenada pela companhia de teatro “A Forja” de À-dos-Loucos, freguesia de São João dos Montes, concelho de Vila Franca de Xira, na tarde de domingo, 24 de Fevereiro.Já se tornou tradição na aldeia. Todos os anos, por altura do Carnaval, o grupo amador de teatro prepara uma peça infantil e convida várias crianças a participarem. É desta forma que muitos começam. “Esta é uma localidade de actores. Grande parte da população já fez teatro e, por isso, tentamos incentivar os jovens a virem para o teatro. Desinibe-os e tornam-se muito mais comunicativos e sociáveis, além de ser uma aprendizagem constante”, explica o encenador e autor da peça, João Henrique Costa.Desde muito cedo que Susy Simão demonstrou apetência e talento para o teatro. A petiz conta que, quando tinha cinco anos, vinha com uma amiga a todas as festas e ensaios de teatro que se realizavam no Clube Desportivo e Columbófilo (CDC) de À-dos-Loucos. Cantavam e brincavam.Um dia, o encenador João Henrique Costa viu-as e convidou-as para integrarem o grupo de teatro. A jovem aceitou mas devido à sua idade – cinco anos – a experiência teatral ficou adiada. Até ao último Carnaval. João Costa foi a casa da jovem e convidou-a a participar na peça que iriam estrear em breve. A jovem não pensou duas vezes e com o consentimento da família aceitou. Susy apresenta o final da peça e canta. Revela um à vontade e uma descontracção impressionante para uma criança da sua idade. Num primeiro contacto parece tímida mas passados alguns minutos fala e brinca com todos enquanto se veste e concentra no seu papel. Apesar do talento, ainda não decidiu o que quer ser quando crescer. Actriz ou cavaleira. Por enquanto não se preocupa com isso. Segundo a própria, tem muito tempo para decidir. “Agora quero divertir-me e fazer o que gosto”.Também Diogo Graça, oito anos, faz a sua estreia num palco de teatro. Loiro, pele clara e olhos azuis, o jovem parece envergonhado. Mas assim que entra no camarim e se junta aos colegas parece outro. Corre de um lado para o outro e fala pelos cotovelos. Tem uma energia contagiante. Só se acalma durante a fase de maquilhagem. Diogo representa o palhaço Girofló, na peça “O Circo Fantasia”.Nunca tinha pensado em ser actor, mas o facto de ser extrovertido e estar sempre pronto para a brincadeira em casa e na escola levou o pai a falar com o encenador e responsável pelo grupo “A Forja”. João Henrique Costa não se esqueceu da conversa com o pai de Diogo e no último Carnaval foi a sua casa convidá-lo. O jovem não escondeu a surpresa por se terem lembrado dele e aceitou. Gosta de estar em cima do palco e já revela ter alma de artista. Explica que, quando for grande, quer ser actor e pintor. Não consegue optar por uma profissão. Diz que vai tentar conciliar as duas coisas. De uma coisa tem a certeza. Depois desta peça quer continuar no grupo de teatro. O texto decora-o nos ensaios. Sempre com a ajuda do encenador a quem Diogo trata, respeitosamente, por “Senhor João”.Beatriz Tirapicos é a mais nova do grupo de actores estreantes. Tem cinco anos, mas revela ser uma criança decidida. Depois de ver a actuação do grupo de À-dos-Loucos com a peça infantil “A Ilha Maravilhosa” decidiu que também queria ser actriz. “Enquanto estou no teatro não estou em casa à seca sem nada para fazer”, afirma convicta. Filha e neta de actores amadores, a jovem actriz teve o consentimento de toda a família que fizeram questão de estarem presentes na estreia do elemento mais novo do clã Tirapicos.Apesar da tenra idade Beatriz demonstrou que domina os palcos. O que mais a fascina no teatro é a ideia de poder representar personagens diferentes da sua personalidade e poder vestir roupa que geralmente não se usa no dia-a-dia. “E posso pintar-me o que não posso fazer quando vou para a escola porque é só para as pessoas crescidas”, explica na inocência dos seus cinco anos. Beatriz adorava fazer uma novela. “A minha mãe não me deixa. Diz que sou muito nova”, diz com ar entristecido.Neuza Lopes tem apenas oito anos, mas revela uma segurança em palco de fazer inveja a muitos actores profissionais. Nem um pequeno precalço com o fio do microfone a fez perder a postura. Perante um auditório com mais de duas centenas de espectadores resolveu a situação com profissionalismo. Ou não fosse ela filha de actores amadores. A irmã também integra actualmente “A Forja”. Na peça representa o papel de fada e canta as músicas do Ruca e do Noddy. Apesar de estar a adorar a experiência Neuza não se imagina a fazer do teatro uma profissão. Sonha ser educadora de infância. A jovem ficou surpreendida no primeiro dia de ensaios. “Não imaginava nada que isto fosse assim. Pensava que era muito mais calmo. Mas é uma sensação muito boa apesar do nervosismo”, explica com ar sério.