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Quarenta crianças em risco sinalizadas em Janeiro no concelho de Vila Franca

Quarenta crianças em risco sinalizadas em Janeiro no concelho de Vila Franca

Negligência, abusos e maus-tratos são as situações mais comuns

Quarenta crianças foram sinalizadas pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco de Vila Franca de Xira só durante o mês de Janeiro. Os casos de negligência, abusos e maus-tratos continuam a aumentar no concelho. Quem o diz é a presidente da comissão e directora do Centro de Emergência Infantil da Fundação CEBI, Olga Fonseca.

Quais são os principais problemas das crianças no concelho de Vila Franca de Xira?Em termos da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens a principal situação de risco tem a ver com a negligência. Logo a seguir vêm as situações de maus-tratos e depois o abandono escolar. Mas sobretudo negligência ao nível dos cuidados básicos, ao nível da saúde, da limpeza e da alimentação.Há muitas crianças vítimas desse tipo de negligência?Sim. O risco mais elevado tem a ver com a negligência. As situações de abuso também têm vindo a aumentar. Ou melhor, as denúncias por abuso, uma vez que se tem vindo a tornar um bocado moda, em situações de divórcio litigioso e conflitos de regulação do poder paternal, um dos progenitores acusar o outro de abuso. Isto por si só já é pôr a criança em risco. Todo o número de exames e peritagens a que a criança vai ter que se sujeitar, por si só, já é uma violência.As situações de abuso acontecem nos estratos socioeconómicos mais desfavorecidos?De maneira nenhuma. Existem de forma mais mascarada, mas temos situações de pessoas de classe social alta e média alta com situações muito críticas a nível do cuidado e até de abuso ou exposição a situações de abuso e violência.O número de crianças sinalizadas continua a aumentar?Sim. Terminámos o mês de Janeiro com mais casos iniciados do que números de dias que o mês teve. Foram cerca de quarenta.Continuam a ser necessários espaços desse tipo para proteger os menores?Infelizmente sim. São poucos, as vagas estão sempre lotadas. Sobretudo quando se trata de crianças mais crescidas.Que tipo de acompanhamento é dado a essas crianças?Primeiro que tudo o acolhimento imediato privilegia o acolhimento afectivo. O dar um colo à criança, dar-lhe segurança… Apesar de tudo, estando salvaguardada do perigo, é retirada à sua família e à sua casa e fica num ambiente que para ela é estranho. Isso para nós é a prioridade. Assegurar carinho e conforto e fazê-la sentir-se protegida. Depois há que fazer uma avaliação de condições de saúde física e psicológica e também escolares. E então tentar traçar-lhe um projecto de vida no mais curto espaço de tempo.A sociedade está mais desperta para denunciar os maus-tratos? Sem dúvida que está mais desperta para denunciar. Apesar disso, é preciso fazer um trabalho de educação também a este nível. A prevenção primária é o caminho para diminuir o risco. Há forma de saber se as famílias são de risco ou não de modo a trabalhar com elas assim que a criança nasce. Mas também educação da comunidade. Se é verdade que cada vez mais as pessoas estão sensibilizadas para o dever cívico de denunciar os maus-tratos, continua a ser muito mais fácil criticar depois de uma situação grave ocorrer do que prevenir dando a cara para a denunciar. Esta continua a ser uma característica da população. É sempre muito mais fácil arranjar um bode expiatório do que, a priori, sabendo que a situação é grave, pedir ajuda. Prevalece a atitude de criticar em vez de colaborar, o que é pena.O que leva uma pessoa a exercer violência contra uma criança?Há muitos factores, desde factores intrínsecos à própria pessoa ou factores ligados a crises de vida – familiar, conjugal ou laboral. Ou então crises do foro patológico, da doença mesmo. É preciso não esquecer que muitas vezes estas crises são crises ao nível socioeconómico. Quanto mais degradada for a situação das pessoas, mais provável é que se tornem menos tolerantes e até agressivos com as crianças.Uma criança que venha de uma família violenta tem tendência a tornar-se um adulto violento?Sim, os estudos e a prática assim o mostram. Crianças expostas a modelos desajustados têm uma maior probabilidade de os virem a repetir. Isto não é determinante mas a probabilidade é bastante maior.Porque é que o processo de adopção é tão penoso?Isto é um problema com barbas. A verdade é que o sistema falha, emperra a vários níveis. Há falta de técnicos, os tribunais estão atulhados de casos e há o velho problema da mentalidade de muitos decisores que ainda acreditam que os laços de sangue são uma prisão, que prendem pais e filhos.
Quarenta crianças em risco sinalizadas em Janeiro no concelho de Vila Franca

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