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“É mais fácil pôr as pessoas a chorar que provocar uma boa gargalhada”

Joaquim Salvador, actor e director da Associação Teatral “Os Revisteiros”

“Os Revisteiros” foram distinguidos com o Prémio Carlos Gaspar 2007 pelos 20 anos de actividade contínua. Joaquim Salvador, actor que integrou o elenco de “La Feria” e participa em vários programas televisivos, é a alma da associação de Samora Correia, Benavente. Lutou por um grupo profissional e acredita que com o apoio institucional é possível dar corpo ao sonho.

O Prémio Carlos Gaspar reconhece 20 anos de actividade do grupo “Os Revisteiros”. Como é que sentiu esta homenagem?“Os Revisteiros” não esperavam este prémio. Temos tido vários ao longo da nossa carreira dados pelo público que enche as salas e nos deixa os aplausos. Sem o público não teríamos existido e o seu apoio é o maior reconhecimento. Este prémio carreira significa que estamos a ficar mais velhos, mas é também um reconhecimento público do nosso trabalho.O percurso foi o que imaginou quando lançou esta semente em 1987?Este foi o projecto possível. Nem tudo o que eu pensava e sonhava aconteceu. Com o decorrer dos anos vamo-nos desiludindo e muita vezes fomos por azinhagas quando deveríamos ter ido por auto-estradas. Eu achava ser possível criar um grupo de teatro profissional em Samora Correia, mas esqueci-me que vivia em Portugal. Este país resume-se a Lisboa e tudo o resto é paisagem.Passaram pelos “Revisteiros” vários talentos, mas poucos seguiram o teatro. Perderam-se alguns valores por falta de apoio?Há várias pessoas, de gerações diferentes, que tiveram que optar por uma vida profissional e deixaram o teatro com muita pena minha porque eram bons actores.A vida agitada de hoje deixa pouco tempo para os ensaios?É cada vez mais complicado reunir um grupo de pessoas para trabalhar uma peça. Há horários diferentes e temos de fazer uma ginástica enorme. Ainda é possível sonhar com um grupo profissional?Se as entidades oficiais apoiarem o teatro, é possível ter um grupo profissional em Samora. Temos muitos jovens, temos condições no centro cultural e temos público. Agora já não há desculpa pela falta de um espaço.O Joaquim Salvador é um actor de corpo inteiro. Sacrificou a sua carreira pessoal para valorizar este grupo. Arrepende-se das opções que fez?Sabe…as lágrimas no momento de receber o prémio foi por ter pensado nisso. A paixão pelo projecto Revisteiros apanhou-me e absorveu-me por inteiro. Lembro-me de estar com o “La Feria” a fazer o “Cabaré” e vir a correr fazer uma revista em Samora. Mas não me arrependo de nada, as pessoas deram valor às nossas peças e os espectáculos tiveram quase sempre casa cheia. Sempre acreditei no destino e este foi o meu destino.É um homem polémico?Sei que às vezes choco as pessoas e tenho as minhas pancadas (que não são poucas), mas com a idade nós vamo-nos modificando e ficamos mais moderados. Por outro lado também tenho um grande amor a esta terra e isso faz com que reaja emotivamente a algumas situações.Num momento em que é mais difícil fazer rir as pessoas continua a apostar na comédia…A comédia vive melhor em épocas de crise. Isso provou-se ao longo dos tempos. As pessoas vivem muito fechadas nos seus problemas, mas têm uma necessidade muito grande de rir. A comédia diz a brincar o que as pessoas pensam e isso diverte-as. O teatro de revista, que é bem português, é acessível a toda a gente.A nova onda da Stand up comedy e os projectos do tipo Gatos Fedorentos deixam espaço para a revista?Uma coisa são as modas, outra é a revista que tem uma tradição de longos anos. Sempre que há uma revista no Parque Mayer, as salas, mesmo a cair de velhas, estão cheias. A revista é nossa e o público gosta.É um género difícil de trabalhar?Montar uma revista é complicado. É preciso ter bons textos e dar a volta a muita coisa. O drama é menos trabalhoso porque é mais fácil pôr as pessoas a chorar do que a rir. Os comediantes fazem comédia e drama e os actores que fazem drama ou tragédia não fazem comédia.O teatro deve ter mais espaço nas escolas?Levar o teatro à escola é fundamental para descobrir novos valores e para construir público. Eu dei aulas de expressão dramática a crianças de seis anos que hoje estão comigo nos “Revisteiros”. E isso dá-me um enorme prazer. Qual é o seu sonho de vida?Tenho vários… gostava de fazer um dia o Rei Lear (tragédia de William Shakespeare). Já tive muitos sonhos que não concretizei, mas sinto-me rea-lizado. Tenho tido muito prazer nos espectáculos que fiz em vários pontos do país, incluindo os Açores onde trabalho regularmente, e com grande aceitação do público.

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