uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

O João das pipocas e dos balões

Deixamos de ir à festa porque já não fazíamos dinheiro

Durante anos marcou presença na Festa da Ascensão a vender pipocas e balões. As maleitas da esposa e o facto de já não o deixarem escolher o local para pôr o equipamento levaram-no a desistir do negócio.

Há quase uma década que João Oliveira deixou de fazer negócio na festa da Ascensão da Chamusca mas ainda hoje há quem na vila se recorde do “João das pipocas”, que vendia também balões para ganhar mais uns tostões. As maleitas da esposa Graciete, o avançar da idade (72 anos) e o facto de já não poder escolher o espaço para colocar a vitrina das pipocas levaram-no a desistir do negócio.Um negócio que chegou já depois dos 30 anos e pela mão da família da mulher, que “roubou” ao circo, como costuma dizer por brincadeira. Graciete era contorcionista do Texas Circo, que um dia apareceu no Chouto (Chamusca). “O circo trouxe-me o amor da minha vida”. Os artistas ficaram o tempo suficiente para João Oliveira ir arrastando a asa a Graciete. E o amor era tanto que quando o circo levantou arraiais João acompanhou-o, como motorista do futuro sogro. “Andava a ver se me conduzia a mim” graceja Graciete. Enquanto não lhe arrebatou a mão não descansou, nem que para isso tivesse de mostrar uma costela de artista. “Cheguei a actuar de palhaço rico”.E conseguiu os seus intentos, casando com Graciete aos 26 anos, e regressando à terra natal. Trabalhou nas bombas da antiga Orauto (hoje Galp, onde ainda faz umas horas ao domingo) como lubrificador, na fábrica de papel de Santa Maria de Ulme até à sua falência, tirou o curso de guarda-livros por correspondência. Enquanto isso Graciete associou-se a uma vizinha para vender frangos assados no mercado do Chouto. A sociedade desfez-se pouco tempo depois e João passou a ajudar a mulher.Um dia uma irmã de Graciete, a viver também na aldeia, perguntou-lhes se não queriam entrar no negócio das pipocas. E foi assim que João e a mulher passaram a ser figuras presentes na Ascensão da Chamusca. “Ainda me lembro como eu e o meu cunhado montámos a estrutura do móvel e da panela das pipocas me ter custado cem contos, muito dinheiro há 26 anos” conta o João das Pipocas. João nunca deixou de trabalhar nos outros ofícios mas o dinheiro das pipocas dava para aliviar o orçamento de uma casa de oito pessoas. “Chegámos a ir vender a Almeirim, a Alpiarça, à Glória do Ribatejo. Corríamos todas as festas e romarias”. Mas do que mais gostavam era da Ascensão na Chamusca, porque tinha muita gente. “Montávamos a estrutura onde queríamos e depois era só fazer as pipocas”. Que têm arte, porque o óleo tem de aquecer bem na panela suspensa na armação e o milho é “especial”. Junta-se-lhe o açúcar e o corante alimentar e ao fim de 15 minutos vira-se a panela e caem as pipocas quentes e suculentas. Mesmo depois das cirurgias à cabeça e à barriga Graciete ainda encontrou forças para acompanhar o marido. “Até cheguei a ir de cadeira de rodas, porque gostava de conversar com as pessoas”. As três operações feitas a uma perna é que a deitaram abaixo para o negócio. Assim como facto de lhes passar a ser imposto o local para estacionar a máquina das pipocas. “Deixámos de ir à Ascensão. Já não fazíamos dinheiro…”

Mais Notícias

    A carregar...