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Cova da Moira é a única taberna típica do concelho do Cartaxo

Cova da Moira é a única taberna típica do concelho do Cartaxo

Pipas de vinho, calendários de mulheres nuas e o poster do Benfica enfeitam o estabelecimento
É um reduto dos homens. Uma espécie de clube popular onde a única mulher é a proprietária, dona Cila.Num final de uma tarde quente há meia dúzia de clientes a bebericar vinho e cerveja. Uns ao balcão e outros nas mesas. São todos homens. A dois passos fica o largo do coreto. Estamos em Pontével, na última taberna típica do concelho do Cartaxo. A taberna Cova da Moira. É a única no concelho do Cartaxo que preserva as características tradicionais e não cedeu à tentação da decoração de café ou de snack-bar.Há no ar um cheiro forte a vinho. Dois pipos de madeira estão bem à vista. A pinga é produzida na terra. A média semanal de consumo são 120 litros. Lucília Gabirro Conde, a quem todos chamam dona Cila, está junto ao balcão, o seu posto há 64 anos. Das dez da manhã às dez da noite. O negócio era dos pais. Depois passou para ela. Enviuvou há 12 anos mas sempre foi ela que tomou conta da taberna. Do nome Cova da Moira não se sabe bem a história. Diz-se que foram tropas, há longos anos que a baptizaram assim. Manuel Azevedo Lopes e Luís Patrício da Silva juntam-se à conversa. Já entraram nos sessenta. São clientes assíduos. “Estou a beber cerveja porque a tarde está quente. Vinho é para as refeições”, justifica-se o primeiro. Luís Patrício da Silva acha que o vinho se bebe bem em qualquer altura do ano. “Tenho uma adega e sou fornecedor. Esta é a segunda vez que aqui entro hoje. Já bebi uns seis ou sete fininhos”.O vinho é de cor intensa. Desperta memórias. Anima conversas. “Pontével foi sede do concelho desde 1294”, afirma com vigor Manuel Azevedo. “Temos foral de 1298” continua o historiador popular. Pelo meio conta histórias pessoais, como a da namorada que teve em Santarém durante o tempo que cumpriu o serviço militar. A taberna é o melhor local para conversas de homens. No espaço de meia hora os clientes multiplicam-se. De meia dúzia passam a dúzia e meia. Uns encostam-se à porta a conversar. Outros sentam-se nas mesas. A maioria prefere encostar a barriga ao balcão. Vão pagando rodadas uns aos outros. Há copos para “atletas” de diferente performance. Os fininhos, de 20 cêntimos, para os sprinters. A barrica, de maior capacidade e do formato das barricas de vinho. O penalti, servido em copo de cerveja e a ciganinha, uma garrafa de 2,5 decilitros cheia de vinho que alguns clientes gostam de beber pelo gargalo. Num armário estão guardados os petiscos. Peixe frito, queijinhos, petingas, tremoços, amendoins, umas latitas de atum e alguns bolos, “para o pessoal matar o bicho de manhã”, explica Dona Cila. Não falta o tabaco e os úteis canivetes. Nas paredes há fotos de antigos futebolistas e ciclistas de Pontével, um poster de uma equipa do Benfica e calendários com fotos de raparigas nuas de formas generosas. Na taberna é costume jogar cartas e dominó. Fala-se de futebol, de música, de política e de mulheres. “Mas isso é lá na roda entre eles porque nunca os oiço nesse aspecto. Alguns dizem parvoíces e já tive de pôr uns na rua”, conta Lucília Conde, que soma 71 primaveras. “Sou a única mulher na taberna. No tempo dos meus pais e mesmo agora as mulheres não entram. Preferem os cafés. Aqui só de passagem, uma vez por outra, para comprar tabaco”, conta a proprietária.Hermínio Gorgulho Felício passa pela taberna todos os dias, por volta das cinco da tarde, depois de uma retemperadora sesta. “Leio o jornal e converso”, explica. A seguir, para selar a conversa, bebe um bom gole de vinho e solta o sonoro Aaaahhhh!!! Dos apreciadores.
Cova da Moira é a única taberna típica do concelho do Cartaxo

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