“Sou um grande defensor do vinho a copo”
Paulo Caldas, presidente da Câmara Municipal do Cartaxo
O presidente da Câmara do Cartaxo, Paulo Caldas, quer os jovens a brindar com copos de vinho nos bares e a deixar de lado as bebidas brancas. É o aproveitamento da identidade natural que tornou famosa a terra das “termas” num ano em que se comemoram as duas décadas da Festa do Vinho.
Como é que resume a estratégia de promoção do projecto “Cartaxo capital do vinho” lançado em 2002?Cada vez mais as cidades e os concelhos obedecem a uma estratégia de marketing territorial. A primeira imagem que se associa a um cartaxeiro, no país e até mesmo fora, é o vinho. Já António Silva fazia referência às famosas termas do Cartaxo. Tal como Almeida Garrett e outros tantos escritores e referências intelectuais. A ideia foi partir dessa forte identidade natural que o Cartaxo tem e sempre teve em torno do vinho para potenciar o concelho nessa lógica de marketing territorial. Com a consciência de todas as dinâmicas que vão sendo desenvolvidas em torno do vinho – temos o museu, a Festa do Vinho, a Associação de Municípios Portugueses do Vinho, que entrosamos com outros municípios que também têm o vinho, a vinha e a cultura rural como referência.Foi no Cartaxo que nasceu o Festival Nacional do Vinho…Esse festival que nasceu no Cartaxo e se desenvolveu durante quatro edições acabou e muito bem por ganhar uma dimensão maior. Foi para o CNEMA e é um bom exemplo de que a estratégia “Cartaxo Capital do Vinho” tem sido aberta aos outros municípios, de convergência e de valorização do produto.A festa do vinho vai receber o congresso ibérico. Não receiam promover a concorrência com este tipo de eventos?Com a vigésima edição da Festa do Vinho - que vai continuar a apostar na cultura popular, na promoção da tipicidade gastronómica das oito freguesias, no certame dos empresários ligados à vinha, ao vinho e ao mundo rural – vão decorrer eventos que credibilizam esta edição especial. Um é o congresso ibérico dos museus do vinho e da vinha. Este congresso não vai garantir nenhuma competição dos vinhos espanhóis relativamente aos nossos. O que vai é potenciar a ligação do vinho à cultura, à educação e ao património. Orgulhamo-nos deste evento que tem como objectivo a valorização de dois povos, das culturas e das tradições e patrimónios comuns.A promoção tem dado frutos?Tenho consciência de que o vinho do Cartaxo hoje é mais conhecido. Também é mais vendido. Mas porque tem qualidade superior. À semelhança do que acontece com o restante vinho português identifico o vinho do Cartaxo como um vinho de grande qualidade. E isso é bom para os produtores, para a adega cooperativa, para as nossas casas agrícolas. Neste momento estamos a fazer um projecto muito interessante de formação na área da gastronomia. O vinho associa-se cada vez mais à gastronomia e é importante que a restauração tenha mais qualidade no trabalho com o próprio vinho.E não se trata de um projecto direccionado para um concelho.“Cartaxo capital do vinho” não nasceu para dizer que o Cartaxo é o rei do vinho, ou seja, o município que capitaliza pela dimensão a força motora do vinho e da vinha e do mundo rural. É mais na perspectiva de que existe um eixo e depois todo um conjunto de dinâmicas para valorizar um sector que reputamos de grande importância. No plano estratégico nacional de turismo o vinho, tal como outros produtos regionais, aparece como um dos produtos específicos a valorizar naquilo que é a base turística do país. Mas a insegurança rodoviária continua a ser muito associada ao vinho. As campanhas apelam a que “se conduzir não beba” ou “se beber não conduza”…Ou “beba vinho com moderação faz bem ao coração”… Eu tenho o seguinte princípio. Na vida tudo o que fazemos com equilíbrio corre bem. Houve sempre a tentativa de associar o vinho à grande sinistralidade rodoviária. Tanto que era muitas vezes uma garrafa ou um copo de vinho que era exposto nos cartazes nas campanhas de sensibilização. Quando se sabe que quer o consumo da cerveja em excesso, quer o consumo de bebidas brancas, com teor alcoólico superior pode ter influências mais nefastas…O segredo é o equilíbrio…Não há problema algum se um português beber um ou dois copos de vinho a uma refeição. Isso não o prejudica. E não estamos a falar só de condução. Um país que tem o vinho e a gastronomia como aposta estratégica do turismo tem que naturalmente desligar de uma vez por todas o vinho do alcoolismo e da sinistralidade. A maior parte dos jovens não bebe muito vinho. E é comum haver acidentes. Comas alcoólicos. O tipo de bebidas que abusivamente consomem têm teor mais alcoólico que o vinho...E o vinho a copo?Sou um grande defensor do vinho a copo. É algo que está generalizado em vários países da Europa e que dentro da tal lógica do equilíbrio permite o convívio depois de se sair do trabalho ou durante um pequeno lanche. O vinho à mesa é motivo de alegria e de partilha. Entre família ou colegas de trabalho. O vinho a copo iria contribuir e muito para uma perspectiva equilibrada do consumo de um produto que estamos a considerar estratégico para o desenvolvimento do país. É muito diferente colocar numa mesa uma garrafa de vinho ou dar a opção um ou dois copos de vinho. Nos bares os jovens dão primazia a essas bebidas mais espirituosas. Já falou com os empresários para os sensibilizar?Procuro não só sensibilizar para o vinho a copo nos bares e restaurantes, como sempre que me desloco, mesmo para outros países, perguntar se têm vinho do Cartaxo ou Ribatejo. Há uma marca Portugal e é esse vinho que hoje compete com o que vem do Chile, da Argentina, de outros países da Europa e da Austrália. Vinho que começa já também a vir da China. Muitos restaurantes caracterizam os vinhos do Ribatejo como “outras regiões”. Os vinhos mais conhecidos são os do Douro e do Alentejo. Mas os nossos também são e têm qualidade superior. Os empresários são receptivos à ideia de vender copos de vinho nos bares?No Cartaxo conheço poucos que o façam, mas na região já há restaurantes que implementaram o vinho a copo. Permite o aumento do consumo, o que ajuda à produção e o sector, mas também porque vem na tal lógica de usufruir de um prazer. Que acaba por ter repercussão cultural do ponto de vista do convívio porque leva a uma conversa…
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