Passo frequentemente junto ao largo da igreja matriz da freguesia da Várzea, mais propriamente no sítio do Outeiro, concelho de Santarém. No local decorrem, há algum tempo, frenéticas manobras de máquinas escavando e movimentando estradas e terras. Se juntarmos ao cenário de lama e pó, as horas de ponta, mais os casamentos, cortejos funerários e outras festas litúrgicas, eis o ambiente caótico típico dos aglomerados rurais das periferias urbanas, em tempo de eleições à vista. Convém lembrar que naquela zona, coexistiam uma curva apertada, um cruzamento perigoso, um apeadeiro rodoviário e... um imponente freixo centenário de porte e raridade consideráveis que alguém de duvidosa inteligência já mandou botar abaixo.Dizem que o “projecto de beneficiação” que vai pôr cobro àquela balbúrdia, foi elaborado pelo G.A.T. (Gabinete de Apoio Técnico) de Santarém, aprovado pela Câmara Municipal e oportunamente afixado por ordem da Junta de Freguesia nos contentores do lixo locais, tendo em vista o estrito cumprimento da lei e o melhor esclarecimento do povo. Se não fosse o respeito pela idade do freixo e pelas sombras que generosamente ofereceu aos devotos paroquianos, não me tinha entregue à inútil tarefa de escrever estas linhas, já que o “Fraxinus excelsior” (árvore rara de solos frescos e profundos), foi barbaramente arrancado da vida ... ao que dizem, em nome do progresso e do interesse público!Inconformado com este paradoxo dos tempos que correm, fui conhecer o dito “projecto de beneficiação” que parece consistir na criação de uma estreita praceta sem saída, destinada ao estacionamento de sete veículos mais ou menos arrumados. A anteriormente referida curva apertada será deslocada para uma cota inferior, mas continuará apertada... e o tal cruzamento perigoso sofre apenas um breve desvio, ficando o risco por conta da perícia e civismo dos condutores mais apressados. Quanto à localização do apeadeiro rodoviário, cuidem-se os idosos e diminuídos motores porque para acederem ao largo da igreja matriz terão que galgar (a pique) mais uns lances de escada, em nome do progresso e do interesse público.Pedro Teles Grilo - Arquitecto