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Manuel Miguel “Poeta”

59 anos, comerciante, Porto Alto

“Quem é que não sente a crise? O povo não tem dinheiro. Houve anos em que vendi mil quilos de melão numa semana e agora vejo-me grego para vender cem quilos. As pessoas cortam em tudo, até na alimentação.”

É um admirador das festas populares que se realizam no Verão?Sempre gostei deste tipo de festas, como se faz no Porto Alto, desde gaiato. As pessoas gostam de se divertir e precisam destas coisas. Este ano montei aqui uma venda. Como e bebo aqui, para ver toda a festa. É uma maravilha.Esta festa custa mais de 70 mil euros. É um dinheiro bem empregue?O pessoal tem de ter alguém que lhe alegre a vida. Custam muito dinheiro mas divertem milhares de pessoas. Isto foi um mar de gente aqui nas festas do Porto Alto. Acho bem que tragam cá bons artistas e ofereçam espectáculos à borla ao povo e comida e bebida como fazem na noite da sardinha assada.De que tipo de espectáculos é que gosta mais? Gosto muito de folclore. Não perco uma actuação dum rancho e acho que o folclore está cada vez melhor, com muita malta jovem a dançar. No meu tempo dançava descalço e com roupas à saloia, agora é tudo a preceito.O senhor vende fruta. Tem sentido o efeito da crise? Quem é que não sente a crise? O povo não tem dinheiro. Houve anos em que vendi mil quilos de melão numa semana e agora vejo-me grego para vender cem quilos. As pessoas cortam em tudo até na alimentação. Olham para as cerejas, perguntam o preço e não compram porque dizem que são caras, mas não são. O dinheiro é que é curto.Está desiludido com os políticos portugueses?Desiludido com os políticos?! Eu fui foi iludido por eles. Acreditei que isto ia para a frente e cada vez está pior. Mas a crise é mundial e nós pagamos porque somos pequeninos. Eu fui emigrante e sei que as coisas lá fora também não estão famosas.Concorda que as corridas de toiros não sejam transmitidas na televisão em horário diurno com o argumento de que são um espectáculo violento?Não percebo essa medida. A televisão passa tanta coisa violenta, tanta fantochada a toda a hora e em vários canais e ninguém se importa e agora querem acabar com as corridas de toiros na televisão. Deviam era transmitir mais porque o povo gosta e faz parte da nossa cultura. A televisão também devia dar mais atenção à agricultura que está nas ruas da amargura.A agricultura pode ser um factor de desenvolvimento ou está condenada a desaparecer?O país sempre viveu da terra e agora abandona as terras boas ou constrói casas nos terrenos que davam grandes culturas. Temos de voltar a produzir e aproveitar o que a terra dá para não importarmos o que não presta. Antes via-se tudo verdinho e hoje só se vê é pasto. O Governo dá subsídios para destruir a agricultura. É uma política errada.Está preocupado com a sua reforma?Eu já não vou ter reforma porque o Estado não vai ter dinheiro. Enquanto tiver forças vou amealhando para comer e quando não puder trabalhar vou ver como me governo até ir para o buraco.Tem medo da morte?A morte é a coisa mais certa que temos. Não tenho medo, quando chegar chegou. Já estive lá perto e consegui fugir e estou aqui a comer e a beber. Temos de aproveitar a vida enquanto cá estamos.

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