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Estofador por acaso do destino

Estofador por acaso do destino

António Pisco é um dos quatro profissionais da cidade de Almeirim

O estofador não se arrepende da opção que tomou com tão tenra idade. Gosta do que faz e pretende trabalhar até o corpo deixar.

Sentado em frente a uma das suas três máquinas de costura antigas, António Pisco cose os pontos do tecido de napa para colocar no assento de um banco de automóvel que aguarda arranjo em cima da enorme mesa de madeira que ocupa o centro do seu local de trabalho.António Pisco tem 69 anos, é natural de Almeirim onde vive e trabalha, e é estofador há mais de quatro décadas. Apaixonou-se pela profissão por um acaso do destino. Aos 15 anos arranjou trabalho numa oficina em Santarém. A ideia era ser bate-chapas. Como, naquela altura, era necessário um mestre da profissão que ensinasse o ofício aos ajudantes e não havia nenhum, António Pisco começou a trabalhar, provisoriamente, como estofador.“Estava a trabalhar como estofador há quatro meses quando o dono da oficina me perguntou se queria ir para bate-chapas porque já havia um mestre disponível. Recusei porque gostei do que fazia e percebi que era um trabalho com saída e tinha ideia que não havia muita gente que soubesse o ofício”, explica.E acertou. António Pisco é um dos quatro estofadores de Almeirim. E o único que nasceu e cresceu na cidade. Começa a trabalhar às seis da manhã e nunca termina antes das 19h30. Garante que não é uma profissão fácil mas, para quem estiver interessado em aprender, é um ofício com futuro. O problema, diz, é que os mais novos não gostam de trabalhar no duro.“Ao longo de mais de 40 anos trabalharam comigo quatro ajudantes. Actualmente, estou sozinho. A maioria não se aguenta porque isto exige perfeccionismo, demora tempo e se não ficar bem temos que ter paciência e disposição para refazer tudo de novo. É preciso gostar mesmo de verdade”, afirma.Na tarde em que O MIRANTE visitou o estofador de Almeirim, António Pisco encontrava-se bastante atarefado. Os três assentos, com três lugares cada, de uma carrinha Mercedes estão por arranjar. Os estofos estavam velhos e o proprietário quis substituí-los por novos. Estofar pode demorar várias horas. Depende dos materiais e do estado de conservação do material a arranjar. Mas ele gosta e confessa que perde a noção do tempo enquanto está entretido a trabalhar.Além de estofar, Pisco comprou também uma máquina de costura que debrua os cantos dos tapetes dos automóveis. “Tem tido muita saída. Quando os tapetes dos automóveis estão velhos os clientes pedem para fazer novos. Fica mais barato do que irem à oficina da marca”, explica. O estofador contou a O MIRANTE que nos últimos tempos o trabalho tem sido muito. Mas não sabe explicar a razão. Garante que trabalho nunca lhe faltou mas existem alturas em que abranda. “Felizmente o Verão está a ser uma época alta”, diz. Uma das causas apontadas para o aumento de procura do seu trabalho deve-se, na opinião de António Pisco, à crise financeira que Portugal, e o mundo, atravessam. As pessoas não têm dinheiro, mantêm os carros antigos e vão consertando o que se vai estragando com o tempo.António Pisco também estofa sofás embora prefira os bancos dos automóveis. Está mais habituado. Mas sempre que lhe pedem remodela os sofás. Encostado a uma parede da sua oficina está um sofá de um salão de cabeleireiro. A dona quis um sofá em tons laranja. O estofador assim fez. Há mais de um mês que está à espera de uma resposta da cabeleireira que entretanto mudou de ideias e ainda não decidiu qual será a nova cor da poltrona. “Temos que ter paciência. Se ela pagar pelo serviço troco a cor do estofo, senão temos que chegar a um acordo”, diz.Oleados para utilizar na agricultura é outra vertente da sua profissão que também tem muita saída. Disposto em colunas podemos observar as várias dezenas de amostras de tecido para oleados. O cliente escolhe e António Pisco, com uma máquina especial, constrói o oleado.O estofador não se arrepende da opção que tomou com tão tenra idade. Gosta do que faz e pretende trabalhar até o corpo deixar. Fá-lo por si e pelos clientes que se tornaram fiéis à casa e sempre que têm um problema ou necessitam de ajuda não hesitam em procurá-lo.
Estofador por acaso do destino

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