uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

“Não acredito nos políticos”

Há meses esteve envolvido numa pequena polémica devido às deficientes condições em que funcionava o armazém de víveres do Banco Alimentar Contra a Fome. Isso demonstra que é um homem sem papas na língua e sem problemas em afrontar os poderes?Não tenho de afrontar ninguém. Mas se entendo que há uma realidade que não se pode manter, como era essa, cabe-me encontrar uma resposta. E essa resposta levou-me a lançar um grito. Valeu a pena porque esse grito foi ouvido e a própria câmara disponibilizou um novo espaço para o Banco Alimentar.É uma voz escutada na comunidade.Sou uma voz igual às outras. Pelo facto de ser padre e estar em diversos projectos ao falar posso ser ouvido. Mas não tenho que ser mais ouvido que os outros. Nem quero. Não pretendo servir-me absolutamente nada daquilo que faço. Se há realidades que na minha óptica não estão correctas não tenho problema quando chegar a hora de denunciar e de falar. Interessa-se pela política?Não acredito nos políticos.Porquê?Penso que estão mais voltados para os interesses pessoais que para o bem comum. Mas evidentemente que também há políticos sérios.Engloba nesse saco os políticos de Abrantes?Todos. Sinto e vejo que realmente os políticos lutam apenas pelo seu partido, pelas suas ideologias e que para além disso não são capazes de aterrar e preocuparem-se muito mais com o bem comum e com o serviço à comunidade. Os partidos estão desligados da sociedade civil?Creio que sim. Estou convencido que não conhecem a realidade, mas se os políticos estão lá têm obrigação de a conhecer. É uma ignorância responsável. O que pensa do presidente da Câmara de Abrantes?É um homem que pensa as coisas, as planeia, as projecto e luta pelos projectos dele até ao fim. E consegue. Os projectos dele não seriam, sem dúvida, os meus se eu fosse presidente da câmara. Faria alguns projectos dele mas numa dimensão totalmente diferente.Nunca pensou em ser presidente da câmara?Já fui convidado mais do que uma vez mas não tenho essa ambição. Gosto imenso daquilo que faço, de ser padre e de pôr a minha vida ao serviço dos outros. E creio que como padre posso ser muito mais útil do que se porventura fosse presidente de câmara.Quando é que decidiu ser padre?Devia ter uns 20 anos, quando entrei em Teologia. Foi nessa altura que de facto me confrontei com essa possibilidade e naquele momento fiz tudo por tudo para abandonar.Vacilou?Naquele momento pensei em ir à procura de outra vida. Mas queria sair do seminário contente comigo. Quis avançar ou recuar com toda a seriedade.O que o levou a avançar.Avancei porque me disseram: faz aquilo que quiseres mas na minha opinião Deus chama-te a seres padre.Quem lhe deu esse conselho?O director espiritual. O que o atraiu na actividade sacerdotal?Poder ser sempre útil aos outros. Pôr a minha vida ao serviço de Jesus Cristo.O voto de castidade nunca lhe fez confusão?Somos educados para estes valores e sentimos que o voto de castidade num padre tem um sentido que é autêntico. E na minha óptica não se pode prescindir dele. É o sentido do serviço e da disponibilidade. A Igreja não tem o voto de castidade apenas para dizer que os padres não casam. É para que o padre seja um homem completamente livre e no uso da sua liberdade possa pôr a sua vida sempre ao serviço e estar disponível. Se os padres casassem não podiam fazer o mesmo serviço?Não podiam. Se fosse casado não podia estar 24 horas disponível para uma comunidade. O celibato é apenas o caminho que a Igreja encontrou para os seus seguidores estarem sempre disponíveis.Nunca se arrependeu do caminho seguido?Não. Gosto imenso daquilo que faço.

Mais Notícias

    A carregar...