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A obra colorida de Hélder Alegria

A obra colorida de Hélder Alegria

É técnico administrativo a tempo inteiro mas entrega-se à arte sempre que pode

Nasceu em Castelo de Vide, no Alentejo, no Outono de 1983, mas foi ainda em tenra idade que se mudou com os pais para o Ribatejo. Tem 24 anos, vive em Alverca e é técnico administrativo a tempo inteiro. Mas quando lhe sobra o tempo é ao pincel e à objectiva da máquina fotográfica que Hélder Alegria gosta de se entregar.

Se pudesse escolher um quadro para roubar e levar para casa escolheria a MonaLisa, de Leonardo Da Vinci, em exposição no Louvre. “Roubaria pela discussão em torno do quadro. Gosto muito de história. Tentava descobrir mais alguma coisa”, conta. Hélder Alegria abre as portas do seu atelier a O MIRANTE e logo uma equilibrada simbiose de cores ofusca os olhos de quem entra. Verdes, amarelos, azuis e vermelhos em metamorfose à medida que as estações do ano vão e vêm. Um apanágio de quem não é um aficionado das touradas, mas pinta com a vista posta no Tejo, na Lezíria e nos mouchões de Alhandra e da Póvoa. “É um privilégio muito grande viver aqui em Alverca e ter como pano de fundo estas paisagens e esta luz ribatejana. Claro que tudo isto me influencia. Mas nunca descuro das minhas origens alentejanas, nem de Lisboa, que está aqui a dois passos”, diz. O cheiro a tintas invade o espaço e uma vasta panóplia de imagens povoa a garagem-duplex feita agora local de criação. As telas, maioritariamente figurativas, são pintadas a óleo, a aguarela e a acrílico. Muitas estão já suspensas na parede. Outras estão ainda nos cavaletes. E outras estão ainda, arrumadas a um canto, à espera do acabamento final. Umas descortinam nus femininos, outras paisagens e figuras da região, como os campinos ou a marina de Vila Franca de Xira. Mas há ainda aquelas que descodificam outros aspectos da cultura nacional: os famosos eléctricos de Lisboa, as coloridas ruas de Óbidos ou o retrato do saudoso Pessoa. Será a obra de Hélder Alegria? O artista não hesita na resposta. “Acho que sim, os acrílicos e o óleo, as cores vivas, fazem da minha pintura, uma pintura alegre”. Não será portanto de estranhar que pelas cores e pela “irreverência”, uma das suas supra referências seja a do holandês Van Gogh. Uma espécie de vitrina-museu, com uma colecção de objectivas antigas, para lá da dezena, e algumas fotografias no arquivo, em cima da mesa central, desvendam que o artista também é fascinado pela fotografia. É o sentido óbvio, imediato, evidente e momentâneo de um mundo que não pára de se mexer que cativam Hélder Alegria para esta arte. Diz que a fotografia, ao contrário do que muita gente julga, não rouba a alma nem ao momento nem às emoções. Ao ampliá-las eterniza-as. “A fotografia não costuma tocar nem roubar nada”, garante. Refere que é ainda a questão do imediato que faz a grande diferença entre pintar e fotografar: “Fotografar é captar o imediato e trazê-lo a lume. A pintura não. Às vezes penso em pintar uma coisa e sai-me outra completamente diferente. Mas nenhuma [arte] é superior à outra”, argumenta. Diz que por serem artes tão distintas e tão nobres nunca poderia responder se gosta mais de uma ou de outra. Reconhece que são os afectos as coisas mais difíceis de pintar e fotografar. “Cada pessoa interpreta um afecto de uma maneira muito diferente. Mas a arte é isso mesmo: sugestão,” reconhece. Inspirado pela música Sem superstições maiores do que a inspiração, Hélder Alegria gostava de fazer da sua arte, que é também a sua libertação, um métier. Mas confessa que nos dias que correm isso é uma tarefa árdua e complicada. “É muito difícil, temos de trabalhar a dobrar”. E reconhece que tanto a pintura como a fotografia também são vítimas dos lobbies: “Quem não passou por aqui ou por ali, quem conheceu este ou aquele, tem sempre o seu peso”. Mas esperanças não lhe faltam: “ Talvez um dia mais tarde venha a conseguir fazê-lo, mas sinceramente não estou preocupado com isso”, arremata. Até lá, Hélder Alegria quer ir pintando sempre ao som da música que vai passando na rádio. Com o vagar e a velocidade que cada imagem exige. Quer continuar a praticar e a captar momentos. Quer ir expondo e ir mostrando o que faz. Reconhece que as melhores escolas de arte do país são as faculdades de Belas Artes de Lisboa e do Porto e deixa expresso o desejo de uma dia se vir a inscrever numa delas. “Mas não tenho pressa”, discorre.Actualmente Hélder Alegria é membro do Grupo de Artistas e Amigos da Arte (GART) com quem mantém uma relação de mútuo apoio e expansão das artes plásticas. Muitas das suas obras não são negociáveis, particularmente as primeiras. Mas alguns dos seus quadros já estão na posse de vários particulares e entidades, nomeadamente de algumas câmaras municipais (Alenquer, Tavira, Lourinhã, Sertã, Castelo de Vide, Arruda dos Vinhos, entre outras). É da opinião de que o valor de um pintor não se mede de imediato. Porque para chegar ao reconhecimento é preciso trilhar muita estrada. Modéstia, de um jovem que, aos 24 anos, já ganhou inúmeros prémios e que já expôs dentro e fora das fronteiras nacionais, inclusive no Japão.Arte no Ministério da JustiçaEmanuel Berenguel, Valdo Borges, Júlio Carmo Santos e Hélder Alegria são os artistas convidados pelo Ministério da Justiça a mostrar as suas obras. Esta foi uma oportunidade para que o pintor Hélder Alegria pudesse expor ao lado do seu grande mestre. “É a primeira vez, neste últimos quatro anos, que estou a expor ao lado de Júlio Carmo Santos. É com grande agrado que vejo isto, é uma honra”, conclui. A exposição colectiva de pintura e escultura pode ser vista até 30 de Setembro no edifício do ministério da Justiça, na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Uma paixão que o acompanha desde os 12 anosFoi aos 12 anos de idade que a pintura entrou na vida de Hélder Alegria. “Fui influenciado em casa pela minha mãe que trabalha as artes decorativas e na escola, nas aulas de trabalhos manuais. Já na altura gostava muito de desenhar”, conta. Já o bichinho da fotografia apareceu mais tarde, no tempo da escola secundária. Um percurso que tem muito de autodidacta, mas que tem paragens e mestres que Hélder Alegria não esquece. Frequentou a escola “Aprender” da Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense, onde se cruzou com Júlio Carmo Santos, o seu grande mestre: “O Júlio Carmo Santos acompanha-me desde os meus 12 anos, e ainda hoje, me guia, como amigo e opinioso. Ele é, sem dúvida, o meu grande mestre”. Já na escola Secundária António Arroio, em Lisboa, teve oportunidade de aperfeiçoar técnicas com a mestre Luísa Soeiro. Quanto à fotografia, passou por vários cursos e workshops e o nome que retém é de João Santiago. “É a pessoa com quem tenho trabalhado mais, e o que me tem passado muitos ensinamentos”, refere. Diz que, apesar de gostar de fotografar em máquinas analógicas, no dia-a-dia, é à máquina digital que recorre. O museu que ainda não visitou e que gostava muito de visitar é o Museu de História, em Londres. Quanto aos nacionais, Hélder Alegria aconselha a todos a darem um saltinho ao Museu de Serralves, no Porto.
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