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Banda do Ateneu não falha uma tourada na Palha Blanco

Banda do Ateneu não falha uma tourada na Palha Blanco

Músicos de todas as idades mas com a mesma dedicação

São mais de sessenta e tocam com alma. Têm entre 14 e 70 anos e sentem orgulho em vestir a farda da Banda Filarmónica do Ateneu Artístico Vila-franquense.

Maria Miguel Borda d’Água tem 15 anos, Pedro Abreu 16. Pertencem os dois à banda Filarmónica Ateneu Artístico vila-franquense, descendente directa da centenária Fanfarra 1º de Maio. Maria Miguel toca clarinete e Pedro Abreu trompete. A primeira toca na banda há quatro anos, trazida pela mão do avô, também ele músico. E o segundo, há dois, por iniciativa da mãe, que o inscreveu na escola da música da mesma colectividade, de onde saem muitos elementos desta banda.Um dia mais tarde, a jovem quer entrar na Banda da Marinha e o rapaz quer ser professor de música. Para ambos, pertencer à Banda Filarmónica Ateneu Vila-franquense, é um orgulho e, ao mesmo tempo, um prazer. “Não me sinto nada presa aqui. Estou aqui porque gosto muito de música e pelo convívio com os meus colegas. Só falto aos ensaios por motivos de ordem maior, como os testes da escola”, conta Maria Miguel. Durante os meses de férias, quando os ensaios fazem um interregno, estes dois músicos amadores, chegam a juntar-se e sobem sozinhos ao palco do auditório do Ateneu, só para poderem soltar uns acordes. Dizem que as saudades das suas horas de ensaio e dos concertos são muitas. São cerca de 62 pessoas, de diferentes idades, sexos e profissões, que todas as quartas-feiras à noite se juntam para ensaiarem na Banda Filarmónica. “A banda é muito heterogénea, mas acaba por não transparecer. Sentados nos lugares estão todos ali por uma paixão comum: a música”, refere o Maestro, Délio Gonçalves, 35 anos, de Azambuja. Maestro há 12 anos, há cinco no Ateneu. “Para estas pessoas, a banda traduz-se também como um escape à rotina: acalma-lhes a alma e convivem com os amigos”, acrescenta o maestro.O elemento mais novo, André Roxo, tem 14 anos e toca trompete. O mais velho dos músicos, Jaime Caetano, conta já com 53 anos de banda. Os últimos 17, a tocar trompete. É sempre com alegria que vai tocar à Praça de Toiros Palha Blanco, onde a banda detém a exclusividade. “Gosto muito de lá ir. Só é chato, quando o boi não quer entrar. Chegamos tarde a casa”, conta Jaime Caetano. Chatices à parte, este sénior amador confessa que pretende continuar na banda pelo menos mais 53 anos. Diz, que apesar de dedicar muito tempo à música, por vezes três a quatro horas diárias, a família não se chateia. “Pelo contrário, a minha mulher, gosta muito de colaborar”. Também Délio Gonçalves ocupa uma parte muito significativa do seu tempo e da sua vida à banda. “Isto não é só ensaio, as preocupações são diárias. Há sempre questões para resolver”, conta o maestro que é também maestro na banda da Armada Portuguesa, professor na Escola de Música do Conservatório Nacional e professor de direcção no Instituto Piaget, em Almada. Quanto a queixas familiares, o maestro “espera que não as haja, mas acha que existem”.Tanto a cidade, como o Ateneu têm ligações fortes e muito enraizadas aos fundamentos culturais da região. Por isso, não será de estranhar que o repertório da banda seja influenciado pela tauromaquia. “Sem dúvida que somos influenciados. Temos uma abordagem e um colorido muito ligado à cultura tauromáquica. Os passes dobles e a música de inspiração lusitana e andaluza fazem sempre parte do nosso reportório. É raro fazermos um concerto onde não toquemos um passe doble”, conta o maestro.Também a exclusividade com a Palha Blanco é antiga. Segundo Délio Gonçalves, existe uma simbiose natural de uma cidade que tem uma cultura tauromáquica e uma banda que tem 117 anos de vida. “A banda faz parte da praça e a praça parte da banda. Ambas estão inter-ligadas e fazem parte da cultura viva destas gentes”, menciona. A ajudar, as boas relações que o Ateneu tem com a Misericórdia de Vila Franca, responsável pela praça de touros. “A Misericórdia e o Ateneu sempre tiveram relações privilegiadas. Em parte, devido à qualidade da banda. Se houvesse corrida de touros na Palha Blanco sem a banda do Ateneu, quase de certeza que a população ia insurgir-se. A banda é o orgulho da população vila-franquese que se revê nela e mais ainda na praça de touros”, garante João Barroca, presidente do Ateneu há três anos. Confrontado com a pergunta “Acha que as pessoas, numa praça de touros, dão a importância devia aos músicos?”, Délio Gonçalves responde prontamente: “Nas touradas, a banda tem um papel central, mas acessório. Isto é, não deve ser distracção, mas fazer parte do evento, complementando-o. Pessoalmente, não imagino uma tourada, sem ouvir uma banda a tocar.” O maestro considera ainda que em Vila Franca de Xira, o público é particularmente entusiasta da banda. “A banda tem a capacidade de galvanizar quer o toureiro, quer o público e, muitas vezes, na Palha Blanco, acaba-nos por ser, simpaticamente exigida, uma participação mais activa”, frisa.Um reportório ligado aos touros e às touradas e uma farda exclusiva fazem a imagem de marca desta banda. “Temos a particularidade de ter uma farda com um modelo único: a nossa farda branca de Verão”, diz o Maestro. “Onde quer que se desloque, a farda é sempre notada”, prossegue. Mesmo com os mais novos a queixarem-se que a farda é “um pouco quente”, a calça ou saia branca, o dólmen e as dragonas, em bordeaux, já suscitaram uma ideia singular. “ São as fardas mais bonitas de Portugal. Acho que devíamos fazer mesmo um desfile de moda. Fora de brincadeiras”, sugere Jaime Caetano.Entretanto, a banda vai dizer presente nas corridas da Palha Blanco, durante a Feira de Outubro. La puerta grande, O paquito chocolatero e El gato Montez são alguns dos passes dobles que vão poder ser escutados, garantiu a O MIRANTE o maestro da banda.Banda do Ateneu não escapa à crisePelo país fazem várias deslocações. A próxima será a Odemira, em Novembro. Mas a única vez que o Maestro Délio Gonçalves se deslocou ao estrangeiro com a banda do Ateneu foi a Cáceres (Espanha), há cerca de três anos. “Não temos viajado tanto como gostaríamos. Não é fácil manter-se esta casa com vida. Os problemas financeiros também de manifestam aqui”, conta. E além das deslocações, as carências financeiras manifestam-se noutras circunstâncias: “a crise financeira provoca também algumas carências a nível instrumental. Todos os instrumentos têm uma durabilidade e, neste momento, não estamos a conseguir renová-los”. “A crise é geral. Temos sempre de gerir esta casa de forma consciente. E dada a dimensão, deve ser gerida como uma empresa e não como uma colectividade. Todavia, as dificuldades que temos não nos fazem desistir de maneira nenhuma”, garante também João Barroca, presidente da Colectividade Ateneu Artístico Vila-franquense.
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