Comecei a trabalhar muito cedo, com 10 anos, na Farmácia Serra, na Chamusca. Mas do que eu gostava mesmo era da mecânica pelo que me inscrevi numa empresa que dava formação por correspondência e todos os meses lá se ia o ordenado da farmácia (risos). Tirei um curso de electricidade e outro de mecânica. Aos 15 anos consegui ir trabalhar para uma oficina na Chamusca. Ao fim de ano e meio, o então presidente da Câmara da Chamusca (António João Lopes da Costa) convidou-me para trabalhar na sua casa agrícola, onde tinha carros antigos, máquinas agrícolas e tractores. Interrompi a actividade de mecânico aos 20 anos quando fui para o Ultramar. Fui colocado numa companhia na Guiné e fazia a reparação dos motores dos fuzileiros no mato. Entretanto, dá-se o 25 de Abril e regresso a Portugal em Setembro. Tinha, na altura, 24 anos, e procurei o meu anterior emprego mas a casa agrícola já não existia. Andei quase um ano a trabalhar apenas para pessoas amigas. O meu pai trabalhava em Lisboa, na Rodoviária Nacional. Inscrevi-me para trabalhar como mecânico e fui chamado. Como tinha bastante experiência, especialmente nos motores diesel, passado um mês fiquei a tomar conta da parte de desempanagem. Não gosto de viajar e esteja onde estiver tenho sempre o desejo de voltar para a Chamusca. Trabalhei durante seis anos em Lisboa mas não gostei de lá viver. E passei lá os anos mais prósperos, numa época em que se ganhava muito dinheiro. Entretanto, comecei a namorar com aquela que é actualmente a minha esposa e pedi transferência para esta zona. Passaram-me uma carta para me apresentar na Rodoviária de Torres Novas mas, ao invés, fui bater à oficina de Santarém, onde fiquei seis anos. Arrisquei mudar a minha vida aos 40 anos. Através de um amigo, Manuel José Trincão, tive conhecimento que existia uma pessoa que estava interessada em contratar alguém para chefiar uma filial da sua empresa na zona centro. Disse-me aquilo tanta vez e, num sábado que estava mais saturado da minha oficina, pedi a esse amigo para ligar para essa pessoa que é o Sr. Carlos Baptista, administrador da Neoparts. Nesse mesmo dia, veio ter comigo à Chamusca e ficámos a conversar a tarde toda. Na segunda-feira seguinte despedi-me da Rodoviária, depois de 20 anos de casa e sem trazer um tostão. Estou há 17 anos com a Neoparts, representante da Karcher, uma marca alemã de mecanização de limpeza. Andei um ano e meio a correr o país todo, a vender peças e a recuperar e vender máquinas. Trabalhava muitas vezes à noite e aos fins-de-semana. O administrador analisou o meu ano e meio de vida na empresa e, com base nos meus resultados, tive autorização de comprar e instalar filial Ribatejo da Neoparts. Sou uma pessoa bastante ponderada. Só depois das coisas encaminhadas na Neoparts é que deixei a oficina de pintura e bate-chapas e o stand de automóveis. O que tenho conseguido na vida é sempre a lutar e a trabalhar muito. Um colaborador meu tem de ser, acima de tudo, uma pessoa séria. Depois, o resto aparece. Pode ser bom vendedor, mas se não for sério a todos os níveis, não serve para esta empresa. Sou uma pessoa simples, que gosta de estar com os amigos que são o que há mais precioso na vida. Penso que os amigos fazem muita diferença na vida de uma pessoa. Gosto de ficar pela Chamusca, a fazer um pouco de jardinagem e a cuidar das minhas coisas. O meu único hobbie passa por coleccionar bons relógios. Tenho imensos. De resto, tudo me satisfaz desde que seja aqui na minha terra. Sou casado e casei há pouco tempo a minha única filha, Margarida, que também vive na Chamusca.