Mário Soares foi comunista e neo-realista
Na década de 40 o ex-Presidente da República foi um seguidor da corrente que dá nome ao museu
Entre 1942 e 1947 Mário Soares foi militantemente comunista e neo-realista. A confissão foi feita durante uma visita ao museu de Vila Franca de Xira associado à corrente. Escreveu um livro e contos que nunca chegaram a sair da gaveta. A política “agarrou-o” e por isso sente-se uma espécie de “escritor frustrado”.Ver Video em: http://www.omirante.pt/omirantetv/noticia.asp?idgrupo=2&IdEdicao=51&idSeccao=514&id=25041&Action=noticia
Foi militante comunista e um seguidor da corrente neo-realista na década de 40 do século XX. Escreveu um livro e vários contos, mas as obras nunca chegaram a sair da gaveta. A confidência foi feita pelo ex-presidente da República Mário Soares, convidado do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, na quinta-feira, 23 de Outubro. “Na época em que estive no partido comunista e durante os anos em que estive na faculdade de letras fui militantemente neo-realista”, declarou sublinhando que não renega o passado que viveu nos tempos que precederam a revolução de Abril.O auditório do museu encheu para ver o socialista falar do seu passado como político e “uma espécie de escritor frustrado”, como se auto-intitulou.A política “agarrou-o” e não fosse a força das circunstâncias acredita que teria singrado como escritor. Não necessariamente neo-realista. “Suponho que teria evoluído como muitos outros”, atira. “O meu pai que era um pedagogo dizia-me: tu deves é ir para escritor, mas fui apanhado pela política e a verdade é que não tive nunca tempo para escrever livros”.O socialista falou também da forma como se afastou do partido comunista português. “Saí do partido comunista – embora eles digam que me expulsaram – mas essa é já uma questão um pouco sibilina”, disse arrancando sorrisos entre os convidados.No jornal “Avante” o seu nome surgiu entre os traidores ao partido comunista. “O que era desagradável porque era uma maneira de denunciar que tínhamos sido do partido”. Quando os ideais comunistas lhe corriam nas veias chegou a fazer campanha nos corredores da faculdade de letras. “Distribuía uns livros às meninas que por ali andavam e metia-as todas ou no partido comunista ou no MUD Juvenil [ Movimento de Unidade Democrática]”, recordou. “Fichas não havia no partido comunista português”, disse em tom ligeiro respondendo com humor à insinuação lançada pela presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha.“Álvaro Cunhal era uma grande personalidade política, mas não um escritor”“Álvaro Cunhal era uma grande personalidade política, de uma inteligência extraordinária, mas não era um escritor”. Quem o diz é o ex-presidente da República Mário Soares em relação ao autor de “Até Amanhã Camaradas”, que assina sob o pseudónimo Manuel Tiago, um militante comunista que se destacou por ser um dos mais resistentes ao Estado Novo. “Nem sequer um pintor, embora tivesse muita habilidade para desenhar”, complementa Mário Soares.O histórico do partido comunista foi evocado pelo socialista durante uma conversa sobre neo-realismo em que Mário Soares falou sobre as marcas da corrente no cinema até à poesia passando pelas artes plásticas. Mário Soares falou de Soeiro Pereira Gomes, que se estabeleceu em Alhandra e foi trabalhador da fábrica, do poeta da Póvoa de Santa Iria, Arquimedes da Silva Santos, mas também de outros vultos da corrente com fortes marcas no concelho. “Li e tenho todos os livros de Alves Redol com dedicatória”, disse na presença do filho do escritor António Redol, que em tempos foi aluno “brilhante” do ex-Presidente da República. Mário Soares foi por sua vez “discípulo” de Álvaro Cunhal com quem aprendeu noções de cosmografia. “Celeste sim, não terrestre”, disse com humor. Os dois acabariam por cruzar-se mais tarde no estrangeiro num quarto de hotel. Álvaro Cunhal, que em tempos tinha tratado o jovem advogado com proximidade, chamava-o então “doutor” com distanciamento. Antes de se cruzar mais tarde – em 1975 – no famoso debate televisivo que durou três horas e quarenta minutos.“Gosto mais de touradas que de futebol”Mário Soares foi convidado do Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de XiraNos tempos de liceu era espectador assíduo de corridas de toiros. Hoje o ex-presidente da República Mário Soares assiste aos espectáculos tauromáquicos na televisão e é apreciador de uma boa pega.Gosta de corridas de toiros, aprecia uma boa pega e costuma ir jantar ao restaurante “Redondel”, junto à praça de Vila Franca de Xira. O ex-presidente da República Mário Soares visitou a cidade taurina, na tarde de quinta-feira, 23 de Outubro, como convidado da iniciativa “Encontros e Desencontros” com o Neo-Realismo. “Gosto mais de touradas que de futebol”, garante sem hesitar. Já chegou a ir ao Campo Pequeno, mas raramente o apanham numa praça de toiros porque gosta de acompanhar este tipo de evento em casa“É um espectáculo que me diverte. Fui amigo de liceu de um toureiro e ele levou-me muitas vezes às touradas. Era o filho de António Luís Gomes - Rafael Luís Gomes. Toureava com as duas mãos”, recorda lembrando as vezes em que subiu às bancadas para assistir aos espectáculos de tauromaquia. Reconhece o mérito tauromáquico à cidade de Vila Franca de Xira que reclama o título de “Sevilha portuguesa”. Durante a campanha das últimas presidenciais de 2005 esteve na Casa Museu Mário Coelho. A mandatária concelhia foi a viúva do embaixador Álvaro Guerra, Helena Guerra que Soares lamentou que não tenha estado presente no auditório.Na altura de campanha percorreu as ruas da cidade às portas de Lisboa, distribuiu cumprimentos pelos populares e entrou nas lojas de comércio tradicional que considera que ainda mantém a tipicidade de outros tempos.
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